No tempo de Eanes havia os Governos de iniciativa presidencial. Os partidos não se entendiam, o PS tinha maioria relativa e ninguém queria ir para o Governo com o PS, e o Presidente, para evitar eleições antecipadas, o que aliás não conseguiu, escolhia um Primeiro-Ministro e pedia-lhe que formasse Governo e tentasse "passar" na Assembleia da República. Agora é diferente. O PS tem maioria absoluta e só existirão eleições antecipadas se houver uma grande bronca que leve Sócrates a demitir-se, o que não se exclui dada a catadupa de investigações em curso, ou se o Presidente se fartar de Sócrates e demitir o Governo (por menos trapalhadas demitiu Sampaio o Governo maioritário de Santana Lopes). O que talvez não seja de excluir é que, dada a bagunçada que desnorteia o pSD, com a má moeda em livre curso diário de um campeonato do disparate, já com processo de contaminação do Conselho de Estado, é que o Presidente Cavaco inaugura "o PSD de iniciativa presidencial" e indique um líder para pôr ordem na sua casa.
Ontem, na Escola Superior Agrária de Santarém, adivinhem quem foi o convidado do PS de Santarém para falar da República, adivinhem... nem mais nem menos: Ramalho Eanes. As voltas que o PS dá.
Ramalho Eanes prescindiu dos retroactivos a que tinha direito, relativos à reforma como general, que nunca recebeu. O Governo diz ter sondado o ex-Presidente da República, que não aceitou auferir essa quantia (a qual ascenderia a mais de um milhão de euros). A reforma só começou a ser paga em Julho, mas sem qualquer indemnização relativa ao passado.
Uma das características dos próceres do regime é a ganância financeira, a gula pelo dinheiro dos contribuintes, quando não o gamanço despudorado, passe a linguagem. No Estado o mais desqualificado funcionário só não deita mão à resma de papel para fazer fotocópias lá para casa se não puder. Subindo na hierarquia pode calcular-se a bandalheira que não vai por aí.
Eanes, de quem nunca fui apoiante, votante ou simpatizante, teve um gesto que não pode passar sem elogio, dada a cultura vigente. Com este gesto deu uma lição singela da diferença que vai entre do Direito à Moral. O sistema, com os olhos enebriados de euros, não perceberá a lição. Mas ela fica.
Com uma enorme marca de autenticidade: não consta que Eanes seja candidato a qualquer coisa e precise de rentabilizar em votos o seu gesto.
(publicado na edição de hoje do Democracia Liberal)
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