No meio de tanta crise, de tanta miséria, de tanta pobreza, um gajo bem se esforça para pôr a autoestima para cima. Com pitada daqui, pormenor dali, mas que diacho, até quando toca à corrupção o que nos sai é lixo e sucata...
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Não me entra por que carga de água é que o meu país precisa de 16 ministros, quando já não tem agricultura, moeda, nem, muitas vezes, vergonha. E fora o exército de secretários de Estado que chegam até sábado. Perdão: esqueci-me das vaidades.
Que bem que temos passado sem Governo por estes dias em Portugal. Dá tempo para falar de tudo, para ler, para rever amigos, para pensar mais nas importancias que nas urgências... hum, se isto se aproximar da anarquia digam-me que talvez me recrutem. E, já agora, aproveitem para uns doces pecadozinhos.
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As crónicas dos últimos dias eleitorais de 6 do 10 em diante e até ontem, de José Adelino Maltez, no Tempo que não há meio de passar e descontados alguns jogos de linguagem que, de desnecessários, apenas complicam um bocadinho a crueza por si só certeira de tantas palavras.
Sem independencia nacional não havia Portugal. Sem o Tratado de Zamora assinado em 5 de Outubro de 1143 não havia independencia nacional. Republicanos ou monárquicos deviam comemorar esta data fundadora da nacionalidade. Uma data que está acima do regime, acima da forma monárquica ou republicana de Governo. Andam mal os republicanos que a omitem a pretexto da comemoração da implantação da República.
"O essencial é saber como vai ser governado Portugal nos próximos anos. Como vai ser gerido um país com um executivo minoritário, uma Assembleia da República dividida, uma esquerda - bem de esquerda - com 20% dos assentos parlamentares, um PSD ligado ao oxigénio, o líder do CDS meio afogado no caso da compra dos submarinos e a economia em estado de choque e pavor? Em quem podemos confiar? De quem podemos esperar decisões sérias e alguma liderança em tempos conturbados?"
Excelente texto de André Macedo, no "i".
O calor dilata os corpos. As campanhas dilatam as ideias. “Portugal só pode ser um país plenamente inserido na Europa quando a Espanha o for, a Ibéria for, a Península Ibérica for um espaço de integração económica e política”, afirmou Luís Amado, por meríssimo acaso o delegado regional dos Negócios externos da Comunidade Autónoma de Lisboa. Já o delegado regional das estradas e pontes, D. Mário Lino, havia ousado sugerir a extinção deste piqueno pormenor burocrático chamado Portugália, há uns anos atrás. Todos iberistas, todos ministros. Que Pátria generosa a minha, que tanto atura com paciência chinesa (chinesa, Dalai Lama, Amado... isto está tudo ligado...).
O país que vai adjudicar o TGV deixa morrer cinco seres humanos por causa de uma passagem de nível sem guarda. Portugal precisa de uma guarda nova.
Cavaco Silva, pese a solenidade do dia não se eximiu a enviar mais uns recados ao Governo. A novidade do dia foi considerar que a abstenção está relacionada com a credibilidade dos políticos. Oh se está Sr. Presidente. Só faltou Cavaco Silva olhar para trás para a cadeira onde estava sentado José Sócrates para o recado ser perfeito. Mas o discurso do dia foi o de António Barreto. Sem pôr em causa a institucionalidade, Barreto fez desfilar em Santarém a crueza do país que hoje somos, para o bem e para o mal. Está bem entregue a Comissão das Comemorações.
Verdes são os campos
Verdes são os campos,
De cor de limão:
Assim são os olhos
Do meu coração.
Campo, que te estendes
Com verdura bela;
Ovelhas, que nela
Vosso pasto tendes,
De ervas vos mantendes
Que traz o Verão,
E eu das lembranças
Do meu coração.
Gados que pasceis
Com contentamento,
Vosso mantimento
Não no entendereis;
Isso que comeis
Não são ervas, não:
São graças dos olhos
Do meu coração.
Luís de Camões
(Foto)
O depoimento de Oliveira e Costa que acabou já hoje ajudou a compor um retrato feio da sociedade portuguesa. Está lá tudo, tudo o que se tem criticado muitas vezes por instinto e indícios e agora confirmado por um dos protagonistas. Como se fazem negócios, como se gerem empresas, como e quando as entidades responsáveis fiscalizam ou não as empresas, como se vai arrastando um país para a descrença. Um acto de vingança como o de ontem pode ter uma utilidade: mostrar as partes escuras da vida empresarial e política do país. É certo que se tratou apenas de uma versão. Só que essa versão, conjugada com as outras versões que já se conhecem, permitem tirar inúmeras conclusões. Resta saber se desta vez haverá consequência e se vamos aprender alguma coisa para que no futuro tudo isto não volte a repetir-se. Resta saber. Cavaco Silva tem a palavra (ou o gesto). O Ministério Público tem a palavra (ou o gesto).
Obviamente Zapatero falou castelhano e não espanhol (Sócrates acha que há uma língua espanhola...) no comício socialista de Coimbra. Foi a costumada humilhação não só para Sócrates, mas bem pior que essa, para todos os portugueses. Mas os espanhóis não têm culpa. Eles fazem pela vida. A bimbalhada portuguesa que mal passa a fronteira põe o sotaque na boca é que não aprende nada. Quanto ao comício foi um fracasso. Manuela Ferreira Leite percebeu que não era capaz de mobilizar e decidiu não os fazer. Sócrates não percebeu ainda o que lhe está a acontecer.
Ontem dei uma espreitadela ao Prós & Prós. Quatro pessoas falavam pela enésima vez da actualidade, da globalização, de tudo e de nada. Adormeci descansado. Deviam ser aquelas as nossas elites...
Quando o inesquecível deputado do PSD Marques Guedes propôs a criação do Dia do Cão estava muito à frente e foi injustamente vergastado pela opinião pública em geral. Tratava-se, apenas, afinal, de antecipar a vitória diplomática do grande Bo, o cão de Obama. Não digam que não há motivos para sermos felizes... e Sócrates, não assinala esta data histórica? Por anda Luís Amado?! Depois do Magalhães e da sua diplomacia de negócios de computador, teremos agora a diplomacia do cão de água?...
O dia das mentiras já não é o que era. Lêem-se os jornais, ouvem-se as rádios e vêem-se as televisões em busca da mentirola do dia e nada. Faz sentido. Um país que se habituou a ver tanta gente mentir todos os dias ficou sem vontade de brincar às mentiras no 1º de Abril.
Os tempos não estão para histórias nem para História. A crise do crédito que, em catarata se abateu sobre o mundo inteiro, puxa irresistivelmente a atenção de todos para as consequências da crise. Um pouco por todo o lado descobrem-se bancos falsos, fraudes financeiras de milhões, empresas a falir, desempregados a aumentar vertiginosamente, pobreza a alastrar. Especialmente em Portugal acresce um aumento preocupante da criminalidade, o recrudescimento das velhas suspeitas de corrupção à volta dos poderes, e um sem número de preocupações, nas quais, no meu caso, não entra, definitivamente, o penalty de Lucílio.
Aparentemente, pois, este será um texto deslocado no tempo e no espaço. Permito-me, desde já e antecipadamente, discordar. Creio que é nos momentos mais difíceis que os povos necessitam de reencontrar forças e energias no seu passado, na sua história, na sua identidade, como fonte de confiança para superar as dificuldades e olhar com mais serenidade o presente e o futuro.
Arrisco, por isso falar de duas histórias. Ou melhor de História, com agá grande.
A primeira história é esta: no próximo dia 26 de Abril de 2009 D. Nuno Álvares Pereira será canonizado. Esclareço que não sou nem especialista, nem militante da causa e dos ritos religiosos. Mas não confundo opções individuais com características do povo português e com traços essenciais da identidade e da cultura portuguesas. D. Nuno Álvares Pereira, além de herói da nossa história, passará a ser um herói e um exemplo da Igreja.
Sinceramente temo que este acontecimento, porque o é, indubitavelmente, passe ao lado da nossa tão bizarra agenda mediática e social. Em Portugal e
Até agora, não registei notícia de qualquer actividade, salvo referências de monárquicos (também não sou) e de membros da Igreja. Sucede que a Nação a que hoje gostamos de apelar deve a sua sobrevivência a muitos homens que, como D. Nuno Álvares Pereira se sacrificaram por ela. “Sacrificaram” vem de sacrifício, vocábulo entretanto caído em desuso de todas as áreas da vida comunitária. A noção de sacrifício para progredir, para trabalhar, para estudar, para lograr riqueza, é absolutamente estranha ao modo de vida moderno, em que se confia apenas na facilidade para ter tudo. Na facilidade de um sorteio, na facilidade de ser seleccionado para um big brother, na facilidade de encontrar professores que “dêem” notas independentemente do merecimento e dos conhecimentos que se mostrem ter. Mas, se na economia não existem almoços grátis, também na História não existem países grátis. Eles hão-de necessariamente ser o produto de muitas vontades, de muitos esforços e, inevitavelmente, de muitos sacrifícios.
Não duvido que qualquer país no nosso lugar faria da canonização de D. Nuno Álvares Pereira um acontecimento mediático de projecção mundial. Mesmo em plena crise e, se calhar, justamente por causa dela. Para aumentar a auto-estima colectiva e, pragmaticamente, para vender mundialmente o seu país e o seu produto histórico. Como nos disseram que aconteceu com o Euro 2004… Por cá, temo que nos fiquemos por uma coroa de flores na estátua que jaz junto ao mosteiro da Batalha, uns artiguitos de opinião sem dificuldade muito mais eruditos que este e uns posts nuns blogues mais desalinhados do main stream.
Tomar devia colocar-se, neste particular, no centro das atenções. Os poderes públicos e privados deviam celebrar a canonização de D. Nuno Álvares Pereira. Chamo a atenção, entretanto, para o facto de em 2008 se ter reatado uma tradição que parecia ter caído no esquecimento. Pela primeira vez em 35 anos foi celebrada missa campal por ocasião do 10 de Agosto junto à capela de S. Lourenço.
O Conselho Pastoral, dinamizado pelo sargento António Vasconcelos, em colaboração com o Regimento de Infantaria 15, de Tomar, decidiu voltar a assinalar o martírio de S. Lourenço e a junção dos exércitos de D. Nuno Álvares Pereira e do Mestre de Avis, antes de seguirem para a batalha de Aljubarrota. Ora, eis uma ligação de Tomar à gesta de D. Nuno Álvares Pereira que justifica acção e comemoração.
Já que não sou autarca, mas um simples cidadão anacronicamente interessado pelas pequenas coisas do meu país, gostaria de saber se a Câmara Municipal, a Junta de Freguesia de Sta. Maria dos Olivais, ou instituições privadas do concelho estão a pensar realizar alguma iniciativa relacionada com este acontecimento.
A segunda história é esta: em 2010, faz precisamente 850 anos que D. Gualdim Pais fundou a cidade de Tomar. Tudo o que fica dito sobre D. Nuno Álvares Pereira vale para este importantíssimo aniversário. Bem sei que os Templários, a Ordem de Cristo (essa malandragem que legou a Tomar pesada factura de atraso que ainda hoje se paga a prestações, assim como à Bragaparques…) e em geral o património e o seu profundo significado nesta terra, não está propriamente nas boas graças nem nas prioridades dos actuais responsáveis autárquicos. Mas esses responsáveis têm de perceber, ou alguém explicar-lhes de forma veemente, que não passam de transitórios e efémeros representantes de uma comunidade que já existia antes deles nascerem e existirá seguramente depois deles deixarem de representar o povo. Cumpre-lhes apenas estar à altura dos cargos (inocência persistente a minha neste particular…).
Bem sei que este ano há eleições e quem manda e quem quer mandar dá mostras de não ser capaz de pensar em mais nada senão na eleição, no poder, no lugarzinho, no penachito, nas medidas anti-crise, nas rotundas e, dizem-me, no metro de superfície! Mas, azar de calendário, passa-se que 2009 é também o ano de pensar e de programar uma dignificante comemoração do 850º aniversário da fundação de Tomar.
Resta, então, repetir-me: já que não sou autarca, mas simples cidadão anacronicamente interessado pelas pequenas coisas do meu país, gostaria de saber se a Câmara Municipal, as Juntas de Freguesia, ou instituições privadas do concelho estão a pensar realizar alguma iniciativa relacionada com este acontecimento. E o que dizem disto, se é que dizem, os candidatos à Câmara?
Mas também digo: se fôr para fazer umas coisitas rascas e pindéricas, como frequentemente acontece, de envergonhar qualquer um, mais vale estarem quietos. Não me apetece mesmo observar o comportamento habitual no nosso país quando se trata de comemorar os valores nacionais e os símbolos que ao longo dos tempos os vão ilustrando por obra humana. E não, não falo de dinheiro. Falo de dignidade nacional. Falo de poder nacional que os símbolos traduzem. Um povo que abdica desses valores, desses símbolos e de continuamente os projectar, local, nacional e internacionalmente, abdica de uma parcela estrutural do seu poder nacional, o mesmo é dizer, da justificação da sua independência enquanto Estado. Dirão alguns: e daí? E daí eu respondo: ide para alcaides de Ayuntamientos, ide …
(publicado n' O Templário)
Um pároco assumidamente sportinguista de Lisboa informou os paroquianos que não faz baptizados às crianças a que os respectivos pais decidirem pôr o nome de Lucílio. Lucílio, esclareça-se, desde já, é um péssimo árbitro de futebol que marcou um penalty inexistente numa competição de futebol sem importância nem interesse competitivo. Entretanto, esse mesmo péssimo árbitro de futebol foi ameaçado de morte e não quer aparecer em público, com medo legítimo.
O mesmo péssimo árbitro de futebol diz-se e desdiz-se sobre factos que o país inteiro viu através da televisão, menos ele. Omite factos de indisciplina em campo no seu relatório, onde foi acusado de roubar através de gestos por um treinador de futebol e não viu, onde levou um encontrão de peito de um jogador de futebol e não se lembra.
Na semana anterior, dirigentes e treinador, por acaso do mesmo clube, foram ameaçados de morte porque perderam dois jogos com o campeão de futebol da Alemanha, um por cinco golos e outro por sete golos.
Na sequencia de uma reunião da Liga de Futebol, um seu dirigente foi agredido à saída da reunião, e aqui, nem me dei ao trabalho de saber por quem e por que razão.
Esclareço que adoro futebol desde pequenino e que sou adepto ferrenho do Benfica, clube que tem sido, como muitos outros, prejudicado abundantemente por arbitragens em vários jogos e nunca deitou medalhas fora, os seus jogadores nunca deram empurrões aos árbitros com o peito e se habituou a continuar a sua vida depois dos prejuízos. Enfim, feitios…
Como se sabe, não vale a pena recorrer aos tribunais nesta matéria porque nunca há testemunhas e quando há, têm sempre profissões ou exerceram actividades que no entender dos Senhores Juízes retiram credibilidade aos testemunhos.
Acresce que se joga recorrentemente mau futebol nos relvados e por norma, os espectáculos são maus e excessivamente caros para os preços dos bilhetes. Daí que, progressivamente, sem que o meu fervor clubístico tenha diminuído, diminuiu substancialmente o meu interesse pelo futebol.
O que é mais grave do que essa opção individual é que o que se passou esta semana em Portugal, mostra que vivemos num país alucinado, em que o futebol já chegou ao ponto de induzir delinquência. O futebol deixou de ser um desporto profissional e passou a item do relatório de segurança interna. Para além do pormenor de que, evidentemente, existem muito mais assuntos a merecer a atenção e as energias do país do que o episódio Lucílio Baptista.
Os poderes públicos do futebol, por seu lado, nos quais o Estado delega poderes públicos, são de uma indigência confrangedora. Ainda no futebol, por que raio seria diferente o futebol do resto da sociedade e dos poderes?..., é flagrante a diferença da sua actuação relativamente ao que acontece nos países europeus com que temos a mania de nos comparar. Quer a Federação Portuguesa de Futebol, quer a Liga de futebol agem quotidianamente como se nada se passasse no futebol.
Vivemos actualmente num país alucinado. E o futebol é apenas um exemplo de vários que o demonstra. Se migrarmos do futebol para a crescente violência nas escolas e na sociedade em geral, teríamos ainda mais que conversar. É triste. Não tarda, precisamos de entregar o poder a psicólogos e psiquiatras.
(publicado na edição de hoje do Semanário)
Dantes queixavam-se os urticários da bola que o país só discutia animais como águias, leões e dragões, por ordem decrescente de importância. Que havia coisas mais importantes e tal. Agora, discutem-se coelhos e vacas. Também não querem. Por estas e por outras é que os grupos de defesa dos animais passam à luta armada não tarda.
Em Portugal os licenciamentos oscilam entre os lentos e os ultra-rápidos. Estranho.
Triste gente, triste país. Imortal e valente, resta a Nação.
O Governo anda atrás de porcos irlandeses. Espero que não seja vingança pelo resultado do referendo sobre o Tratado de Lisboa...
Portugal não produz os porcos todos de que precisa.
A data de hoje ou, em alternativa, a de 5 de Outubro de 1143, devia ser solenemente comemorada pela Assembleia da República como os dias da independencia nacional. É verdadeiramente estranho que nenhum orgão de soberania, Tribunais obviamente à parte, não comemore de forma solene a independencia de Portugal.
O ex-administrador do BPN José Oliveira e Costa vai ficar em prisão preventiva, por decisão do Tribunal Central de Instrução Criminal, em Lisboa. Se há uns meses atrás informássemos um português que um dia haveria um banqueiro português preso pelas autoridades, seríamos corridos de ingénuos e, no limite, de tontos. Ouviríamos que cá nunca acontece nada, mais o chorrilho de frases de táxi, como lhes chamo, onde se proclamam verdades universais absolutas sobre a triste sina da Pátria. Convenhamos: se até Queiroz consegue enganar os mesmos mais do que uma vez, por que raio não hão-de acontecer outras coisas?
Descubro, ainda n' A Bola, que o antigo jogador de futebol Ricardo Sá Pinto é, nem mais nem menos, do que, tomem bem nota, senhoras e senhores, meninos e meninas, e a todos que escutam a emissão internacional do Tomar Partido, embaixador da PT para o desporto escolar! Ena pá, isto é que é vida. O que fará ele nas delicadas missões diplomáticas de que está por certo incimbido? Vende serviços da PT à criançada? Vende a necessidade de uma alimentação saudável para se ser um bom desportista escolar?
"Portugal precisa de uma liderança limpa, que seja capaz de enfrentar, efectivamente, os grandes 'lobbies', pois não está condenado a ser um país miserável, em que alguns se preocupam mais com o desperdício na atribuição do rendimento mínimo do que com outros monumentais roubos de 'colarinho branco'.
Rui Costa Pinto, no Crónicas Modernas.
Vim a Lisboa num instante. E tirei as minhas dúvidas. Umas voltas rápidas ao El Corte Ingles e ao Oeiras Parque tiraram-me as dúvidas que ainda tinha. É oficial: o Natal, para o comércio, começa a 1 de Novembro. Não há ocorrência mais lamentável do que esta estupidez. Os funcionários públicos recebem o subsídio de Natal para o final deste mês. Os das empresas privadas, os que recebem essa pérola do estado social, que os há e muitos que nem lhe vêem o cheiro, receberão lá para meados de Dezembro. Qual é a ideia deste pessoal? Vi muita gente a passear e a vigiar gulosa mas melancolicamente os objectos à venda. Eles consomem com os olhos, agora que já não podem consumir mais com o crédito. Não comprarão. Algo não bate certo naquelas ruas de consumo para onde melancolicamente emigraram os tempos livres da classe média portuguesa. O comércio gastará mais electricidade. As vendas não aumentarão por causa disso. É a crise.
"O princípio a abater era, necessariamente, o da contabilidade salazarista – «não gastar mais do que se ganha», essa moral pequenina. E havia sempre o futuro, essa espécie de ameaça, de incógnita: uma doença inesperada, um filho na universidade, um azar. Antes do paraíso terreno, a vida era muito pequena e modesta. Que me lembre, ao ler os últimos vinte anos da literatura portuguesa (cada um tem as suas fontes), há muito glamour e dívidas aos bancos, viagens ao Índico e a Nova Iorque, casas copiadas das melhores revistas de arquitectura e um linguajar que nos não pertence."
Francisco José Viegas, n' A Origem das Espécies.
No fundo, os mesmos portugueses de sempre. Desde quinhentos a viver à custa alheia. Acabou. Acabou? Beluga? Hum....
As dificuldades do dia-a-dia, e não as há poucas hoje, distraem-nos muitas vezes das constantes que atravessam os tempos. E é útil ganhar distância e analisar o percurso das sociedades para perceber se algo mudou, se não mudou e se se ganhou alguma coisa com isso.
Supostamente Portugal mudou com o 25 de Abril. Basicamente a história é esta: durante 48 anos vivemos nas trevas e entretidos com coisas de somenos para deixar em tranquilidade uma ditadura eternizar-se no tempo. A partir do Abril miraculoso tudo mudou.
Mas ao olharmos para o Portugal de hoje será que tanto terá mesmo mudado assim? Não, não mudou. E é isso que talvez explique, independentemente dos valores políticos que se professem, o realce com que a história se tem encarregado de projectar Salazar na contemporaneidade do país.
Continuamos o país pequeno que éramos e os negócios públicos continuam dominados por um pequeno grupo que orquestra algumas instituições do regime a seu benefício. Igual. As polícias estão concentradas num cume que tem epicentro na residência oficial da Imprensa à Estrela onde havia um galinheiro para poupar dinheiro aos contribuintes nas refeições do antigo Presidente do Conselho. Ai o que isto lembra…, embora a esquerda agora engula, dócil, tudo o que antes vituperava sobre polícias e ladrões.
Mas com José Sócrates o regresso ao passado assume contornos misteriosos. Depois da proclamação “para Angola e em força!” surge agora o regresso do sonho petroquímico de Sines. Esta semana o primeiro-ministro, José Sócrates, afirmou que o actual clima de negócios em Portugal permite o regresso ao sonho da década de sessenta, de construir em Sines um dos maiores complexos petroquímicos do mundo.
José Sócrates falava no final da sessão que assinalou a ampliação do complexo petroquímico de Sines da Repsol, projecto de investimento avaliado em mil milhões de euros, que numa primeira fase criará 1500 postos de trabalho. O projecto de investimento deverá ser concretizado até 2011 e, numa segunda fase, criará cerca de 500 postos de trabalho permanentes.
Após os discursos do presidente da Câmara de Sines, do ministro da Economia, Manuel Pinho, e do presidente da Repsol, Bru Fau, Sócrates sublinhou a dimensão do investimento da petrolífera espanhola
E pronto: assim, de mansinho, em pezinhos de lã, lá regressámos ao elefante branco que todo o país que pensava na década de sessenta criticava ao Estado Novo: Sines! Depois da esquerda ter recuperado o futebol, ter recuperado
(publicado na edição de hoje do Semanário)
De vez em quando, cada vez mais de quando em quando, é fundamental desenjoar da Pátria. Nas férias desenjoa-se da Pátria indo até ao Algarve onde, segundo Torga, até a Pátria metia férias. Fora isso, qualquer lugar é bom para fazer de conta que não se vive num país onde campeia a mediocridade. Não ler jornais, não ouvir rádio nem ver televisão. Não atender às coisas pequeninas em que se esvai o dia-a-dia e, no fundo a vida apressada de todos e cada um. De preferencia mergulhar na Natureza, onde tudo parece perfeito. E onde, sobretudo, não se ouve falar de Sócrates, dos seus tiros ridículos, dos seus livros bajuladores, dos seus joggings ou do seu tabaco.
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Os portugueses são os cidadãos da União Europeia mais pessimistas quanto ao seu futuro próximo, com apenas 15 por cento a acreditarem que a sua vida vai melhorar nos próximos 12 meses, revela um inquérito divulgado hoje pela Comissão Europeia. Este indicador, que recomenda o politiquês que se diga que vale o que vale, mostra o estado a que chegou o Governo a quase um ano de eleições e o estado em que o Governo colocou o país. Durante meses a fio e numa atitude de pura irresponsabilidade política o Governo ignorou os sinais, os avisos e a crise. Agora é o inenarrável ministro da Economia que diz que o pior está para vir. Com treinadores assim como é que a equipa há-de jogar alguma coisa? Estes 15% são uns curtidos.
Esta fotografia fui "pilhá-la" ao blogue de Pedro Rolo Duarte. Não sei porquê, mas apeteceu-me lembrar a história.
Apesar de haver assuntos mais importantes nas nossas vidas, apesar de haver muitas cabecinhas que pensam que só nos deveríamos preocupar com os assuntos que eles acham que são importantes, apesar do futebol português estar a atravessar uma fase de vergonha, apesar de a selecção, com a triste lesão do Quim, ir disputar um Europeu sem um bom guarda-redes que seja, apesar de não haver pachorra para os disparates laudatórios dos jornalistas (no Rádio Clube Português então o desvario é total e absolutamente enjoativo!), apesar de ter trabalhos de alunos para corrigir e notas para dar, apesar de ter vários compromissos que não me apetecia nada ter, apesar de continuar a ser desgovernado pelo Partido Socialista, apesar de saber que não vai faltar quem se vá aproveitar desta fase de overdose de futebol para mais umas negociatas com o Estado, apesar de ser difícil encontrar outras notícias nos jornais e apesar de termos de levar com telejornais repetidos com as mesmas peças sobre a mãe do Ronaldo, as irmãs do Ronaldo, a namorada do Ronaldo, a tosse do Ronaldo, o clube do Ronaldo, o estado de espírito do Ronaldo, a roupa do Ronaldo, apesar de tudo e de muito mais, BOA SORTE, PORTUGAL!
(publicado também no Camara de Comuns)
(Foto)
Provavelmente nenhuma figura institucional do regime admitirá publicamente que o futebol analgésico é tão útil hoje à democracia como o foi à ditadura.
Vinte e dois anos depois de termos entrado nas Comunidades Europeias e depois de milhões de contos e de euros investidos em tudo e mais alguma coisa, é triste verificar que Portugal piorou a sua situação relativa em comparação com os outros Estados da União Europeia em indicadores sociais e de desenvolvimento. Esse dinheiro foi investido para que o país e os seus cidadãos convergissem com os países e com os povos mais desenvolvidos e o que sucedeu é em vez de convergirmos, divergimos. Desse ponto de vista encontramo-nos todos a viver a consequência de uma oportunidade perdida.
É fácil apontar o dedo aos políticos que negociaram os fundos, que decidiram os fundos, que distribuíram os fundos, que gastaram os fundos. E eles terão enormes responsabilidades no fiasco europeu. Mas é preciso perceber que o problema é mais fundo que essa responsabilidade principal. E que esse problema tem que ver com uma falta de exigência cívica colectiva de rigor e competência.
A forma como a sociedade portuguesa se indigna periodicamente com a pobreza, simplesmente a propósito de um relatório internacional ou de um artigo mais polémico de um colunista é um paradigma do que pretendo significar com a falta de exigência cívica de que falo.
É essa cultura de facilidade que perpassa em toda a sociedade de uma forma geral que também explica que se tenha chegado a um ponto em que cada português deve em média quinze mil euros a instituições financeiras. A dívida dos portugueses às instituições financeiras somou quase 150 mil milhões de euros no ano passado, o que significa que cada português, em média, deve 15 mil euros.
Esta é a conclusão do relatório sobre a estabilidade do sistema financeiro divulgado esta semana pelo Banco de Portugal. O montante do endividamento de 2007 representa 91 (!) por cento da riqueza produzida pelo país no último ano.
No mesmo, o banco central manifestou preocupação por a taxa de endividamento dos portugueses ter subido de 124 para 129 por cento do rendimento disponível apenas num ano. E alerta para o perigo de um número elevado de famílias não cumprir as obrigações financeiras porque “o accionamento de hipotecas teria graves consequências do ponto de vista social, dada a importância da habitação como bem de primeira necessidade e o deficiente funcionamento do mercado de arrendamento”. Assim se mede o quanto se vive acima do que se pode e do que se produz em Portugal.
Quanto à taxa de poupança dos portugueses, desceu em 2007 pelo sexto ano consecutivo. No ano passado, a poupança foi 7,9 por cento do rendimento disponível. O sobreendividamento e a pobreza são as duas faces do atraso económico e social.
A este cenário já de si pouco recomendável regista-se agora uma brutal alta de preços nos combustíveis, com todas as consequências demolidoras que isso tem em toda a economia, desde a desactivação de pequenas empresas, ao sequente desemprego até aos aumentos nos preços da alimentação. Situação que, como facilmente se percebe produz mais pobreza.
Ou percebemos todos, Estado e cidadãos, que só se pode começar a dar a volta ao assunto com mais responsabilidade social de todos ou nada feito.
(publicado na edição de hoje do Diário de Aveiro)
Apesar de tudo, longe dos centros comerciais, há um país que areja e se consegue divertir. Em Alpedrinha vai haver uma festa da cereja que mete caminhada pela Gardunha a 17 de Maio. É o programa ideal para desmoer da festa de 10 de Maio, em Tomar, no Mouchão Parque: o XV Congresso da Sopa, onde as candidaturas são ao gosto do freguês e com a vantagem de não ter de ser militante do Partido respectivo.
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