Dantes um cidadão caía à cama doente e depois da convalescença tinha uma pilha de jornais e revistas para ler. Papel ao quilo. Manchas de tintas de letras apenas aparentemente com sentido, já que o sentido fora-se nos dias em que não foram lidas. Cartas e burocracias para responder. Papéis para verificar. Hoje, não. Tem apenas muitos blogues para ler. E com isso estranhamente se basta. Chatos, compridos, bons, maus, amigos, assim-assim, bonitos, feios, bem escritos, mal escritos, com notícias, sem notícias. E é tão bom. E o melhor, no fim da ronda é mesmo ir estacionar no Ofício de todos os dias.
ESTENDAL
Sabemos sempre pouco das pessoas
que é suposto conhecermos:
todas, é claro, têm os seus termos
e não as há más nem boas
que o sejam inteiramente.
Convém, assim, ter presente
que cada um só revela,
do que é, uma parcela
e, por sinal,
não raro é mais o que esconde,
aqui, ali, sei lá onde,
do que mostra no estendal.
Porque sou desde há muito de Lisboa
(umas vezes Cesário, outras Pessoa)
e é com ela que à noite me deito,
não posso conformar-me nem aceito
que certa gente
se obstine em desfeá-la e, não contente,
se gabe disso, como se a cidade
fosse um capricho da sua vontade.
Lisboa, mais que pedra, é sentimento,
é emoção, mais que lugar.
Causa por que nos cumpre revoltar,
há-de ser sempre pouco o empenhamento
que pusermos em a preservar.
*Se ama Lisboa, não deixe de assinar (eu já o fiz) a petição
por debate sobre o Terreiro do Paço:
http://www.gopetition.com/online/28118.html
É com gosto que acedo ao pedido de divulgação que o João Gomes me endereçou, dirigido aos poetas que andam por aí à solta. "Depois do sucesso que foi o primeiro volume da antologia de poesia contemporânea "Entre o Sono e o Sonho", Editada pelo Jornal Portal Lisboa e pela Chiado Editora - decidimos avançar com o II. Volume da mesma antologia, pelo que andamos à procura de novos autores portugueses, que tenham interesse em publicar alguns dos seus poemas. Para poderem ser seleccionados apenas têm que consultar o regulamento do concurso e enviar alguns poemas para serem analisados pela equipa editorial, que posteriormente se decidirá pela sua publicação. Sendo o I. volume desta obra ainda recente, congratulo-me por já ter nascido um escritor daí, dá pelo nome de Francisco Júnior e publicou recentemente o seu primeiro livro. Visto estarmos num país de poetas, em que tantas pessoas têm o sonho de ver alguns dos seus escritos publicados, pedimos que divulguem pela blogosfera esta iniciativa."
Ontem foi Dia Mundial da Poesia...
Não sei, meus filhos, que mundo será o vosso.
É possível, porque tudo é possível, que ele seja
aquele que eu desejo para vós. Um simples mundo,
onde tudo tenha apenas a dificuldade que advém
de nada haver que não seja simples e natural.
Um mundo em que tudo seja permitido,
conforme o vosso gosto, o vosso anseio, o vosso prazer,
o vosso respeito pelos outros, o respeito dos outros por vós.
E é possível que não seja isto, nem seja sequer isto
o que vos interesse para viver. Tudo é possível,
ainda quando lutemos, como devemos lutar,
por quanto nos pareça a liberdade e a justiça,
ou mais que qualquer delas uma fiel
dedicação à honra de estar vivo.
Um dia sabereis que mais que a humanidade
não tem conta o número dos que pensaram assim,
amaram o seu semelhante no que ele tinha de único,
de insólito, de livre, de diferente,
e foram sacrificados, torturados, espancados,
e entregues hipocritamente â secular justiça,
para que os liquidasse "com suma piedade e sem efusão de sangue."
Por serem fiéis a um deus, a um pensamento,
a uma pátria, uma esperança, ou muito apenas
à fome irrespondível que lhes roía as entranhas,
foram estripados, esfolados, queimados, gaseados,
e os seus corpos amontoados tão anonimamente quanto haviam vivido,
ou suas cinzas dispersas para que delas não restasse memória.
Às vezes, por serem de uma raça, outras
por serem de urna classe, expiaram todos
os erros que não tinham cometido ou não tinham consciência
de haver cometido. Mas também aconteceu
e acontece que não foram mortos.
Houve sempre infinitas maneiras de prevalecer,
aniquilando mansamente, delicadamente,
por ínvios caminhos quais se diz que são ínvios os de Deus.
Estes fuzilamentos, este heroísmo, este horror,
foi uma coisa, entre mil, acontecida em Espanha
há mais de um século e que por violenta e injusta
ofendeu o coração de um pintor chamado Goya,
que tinha um coração muito grande, cheio de fúria
e de amor. Mas isto nada é, meus filhos.
Apenas um episódio, um episódio breve,
nesta cadela de que sois um elo (ou não sereis)
de ferro e de suor e sangue e algum sémen
a caminho do mundo que vos sonho.
Acreditai que nenhum mundo, que nada nem ninguém
vale mais que uma vida ou a alegria de té-1a.
É isto o que mais importa - essa alegria.
Acreditai que a dignidade em que hão-de falar-vos tanto
não é senão essa alegria que vem
de estar-se vivo e sabendo que nenhuma vez alguém
está menos vivo ou sofre ou morre
para que um só de vós resista um pouco mais
à morte que é de todos e virá.
Que tudo isto sabereis serenamente,
sem culpas a ninguém, sem terror, sem ambição,
e sobretudo sem desapego ou indiferença,
ardentemente espero. Tanto sangue,
tanta dor, tanta angústia, um dia
- mesmo que o tédio de um mundo feliz vos persiga -
não hão-de ser em vão. Confesso que
multas vezes, pensando no horror de tantos séculos
de opressão e crueldade, hesito por momentos
e uma amargura me submerge inconsolável.
Serão ou não em vão? Mas, mesmo que o não sejam,
quem ressuscita esses milhões, quem restitui
não só a vida, mas tudo o que lhes foi tirado?
Nenhum Juízo Final, meus filhos, pode dar-lhes
aquele instante que não viveram, aquele objecto
que não fruíram, aquele gesto
de amor, que fariam "amanhã".
E. por isso, o mesmo mundo que criemos
nos cumpre tê-lo com cuidado, como coisa
que não é nossa, que nos é cedida
para a guardarmos respeitosamente
em memória do sangue que nos corre nas veias,
da nossa carne que foi outra, do amor que
outros não amaram porque lho roubaram.
Jorge de Sena
Torquato da Luz lança no próximo dia 28 de Fevereiro, na livraria Barata, pelas 17.30 horas, o seu novo livro de poesia "Por Amor e Outros Poemas". Vão até lá que é tempo muito bem empregue.
Nasceu um blogue de homenagem ao meu amigo Elpídio Sousa. Em boa hora. É o Orgasmo dos Sentidos.
Esclareço então, graças a uma chamada de atenção de Torquato da Luz, que agradeço: o livro "Os Dias do Amor" é uma antologia organizada por Inês Ramos e hoje lançada em Lisboa, que reúne 365 poetas de todo o Mundo. O poema À ESPERA é a contribuição de Torquato da Luz para essa antologia. Livro dele mesmo é "Por Amor e outros poemas", uma edição da Papiro, que será lançado no dia 28 de Fevereiro, às 17.30h, na Livraria Barata (Avenida de Roma, 11A). Assim é que é.
A antologia "Os Dias do Amor", novo livro de Torquato da Luz, um distinto oficial de nobre ofício, numa edição de um ministério são, o Ministério dos Livros, com organização de Inês Ramos e prefácio de Henrique Manuel Bento Fialho, é lançado dentro de momentos, pelas, pelas 18.30 horas, na FNAC do Colombo, em frente ao estádio da Luz. Não estivesse eu em Tomar e não faltaria certamente. Enquanto se espera, aqui fica um cheirinho, com a devida vénia ao Poeta:
À ESPERA
Ainda um dia hei-de contar-te as espantosas
coisas de que me lembro quando fico à tua espera
horas e horas, cada vez mais vagarosas,
e tu não chegas, meu amor, e tu demoras
mais do que a minha paciência. Quem me dera
aquele tempo em que era sempre primavera
e assistia indiferente à passagem das horas.
Mas, quando chegas, só me ocorre esquecer tudo
e ter-te uma vez mais como quem tem o mundo.
Fiel das horas mortas
Desta noite comprida,
Pergunto a cada sombra recolhida
Que sol figura o lume
Que da lareira negra me sorri:
O do calor cristão?
O do calor pagão?
Ou a fogueira é só a combustão
Da lenha que acendi?
Presépios, solstícios, divindades...
A versátil natureza
Do homem, senhor de tudo!
Cria mitos,
Destrói mitos,
Nega os milagres que fez,
E depois, desesperado,
Procura o mundo sagrado
Nas cinzas da lucidez.
«Natal», de Miguel Torga.
S.Martinho de Anta, 24 de Dezembro de 1972
INSCRIÇÃO SOBRE AS ONDAS
Mal fora iniciada a secreta viagem
um deus me segredou que eu não iria só.
Por isso a cada vulto os sentidos reagem,
supondo ser a luz que deus me segredou.
David Mourão-Ferreira, in "A Secreta Viagem"
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