Terça-feira, 27.01.09

Estarão as palavras a cair em desuso por excesso de uso? Será necessário para comunicar e para nos fazermos ouvir, talvez para gritar, usar o excesso absurdo? Comparar Alberto João Jardim ao ex-patrocinador de terroristas e hoje afamado homem de negócios Kadhafi, como faz hoje um jornalista qualquer em Espanha, ou comparar Bush com Hitler, como fez Freitas do Amaral, ou usar a palavra terrorismo para qualificar algumas atitudes do Ministério Público, pode ser uma técnica de chamar a atenção para problemas reais, mas contribui para perdermos o respeito pelas palavras. Elas deixam de significar o que realmente são, para se normalizarem, para se banalizarem, ao ponto de um dia, assistirmos a mais histórias do menino Pedro e do selvagem lobo.



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Terça-feira, 10.06.08

"Beltrano jogou com raça".



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"Fulano é um jogador raçudo..."



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" O raça do moço...".



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Segunda-feira, 17.09.07
(Circunstância)

Um bispo alemão disse que a cultura e a arte estão a degenerar. A degeneração era o termo utilizado pelos nazis para qualificar a arte e a cultura a eliminar, a queimar, a destruir, a impedir, a proibir. A palavra ficou ela própria impedida depois da paranóia nazi. O vocábulo degenerar degenerou, pois, ele próprio. Vai grande a indignação na Alemanha pela utilização da palavrinha maldita pelo bispo. Os alemães vêem na oratória bispal uma espécie de renascimento de propósitos, a que a memória da Inquisição confere redobrada importância. Há uns meses, por cá foi Paulo Portas que num comício na Madeira e, aparentemente, a total despropósito político, disse que o trabalho liberta, utilizando em português a célebre expressão nazi que encima o pórtico do campo de concentração nazi de Auschwitz-Birkenau, onde a frase constituía a forma nazi de dar as boas vindas no corredor da morte. Neste caso não houve grande polémica por cá, até porque já ninguém liga ao que ele diz. De vez em quando levanta-se este problema com as palavras. São elas livres? Somos nós livres de usar todas as palavras? Faz sentido que não utilizemos as palavras que já foram usadas num sentido, e dessa forma crucificadas ou glorificadas, com outro sentido? As palavras, com efeito são sempre livres. O problema não está nas palavras, mas na História. É o Homem que estraga as palavras. Cada prosélito constrói um dicionário privativo. Como se tentasse aumentar o seu poder através da apropriação das palavras. E estraga-as. Ao ponto de deixar mal vistos os que as usam sem terem feito parte da prisão dessas palavras. Quando as palavras com um determinado sentido, que totalitariza o seu significado, remetendo outros possíveis para a penumbra, perdem a sua liberdade, isso significa apenas que alguém as estragou. É preciso não esquecer é que como as palavras são livres, existem sempre mil maneiras de dizer uma coisa sem cair nas palavras aprisionadas. Ao não o fazer, quem as profere faz uma escolha de sentido. E sujeita-se. E, quiçá, estatela-se.


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JORGE FERREIRA
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