Quando não queres resolver um problema cria lá a tal comissão... estas pessoas julgam que estão a gozar com quem?...
Mário Lino, quem mais poderia ser ?, não vê razões para o Governo parar as grandes obras públicas. Não é a primeira vez que o ministro Lino apresenta graves problemas de relacionamento com a realidade. Na margem sul o ministro também não via nada e passados parcos tempos passou a ver tudo, até um aeroporto. Aliás, pelo adquirido deste Governo com o ministro em causa poderia mesmo dizer-se que esta declaração de Mário Lino antecede um anúncio do Primeiro-Ministro de alguns cortes, ou pelo menos uma revisão de calendário, das grandes obras públicas e respectivas despesas.
(Binóculos)
Esta semana, o PS aprovou uma lei da televisão sózinho. Pode? Pode. Teve os votos, tem os deputados. Usa o poder que tem. Não precisa de ninguém. Cavaco Silva, antes de ter aderido à cooperação estratégica, fez exactamente o mesmo e o PS então não gostava.
Esta semana, o PS impediu, sózinho, o acompanhamento parlamentar da construção do aeroporto da Ota. Pode? Pode. Teve os votos, tem os deputados. Usa o poder que tem. Não precisa de ninguém. Cavaco Silva, antes de ter aderido à cooperação estratégica, fez exactamente o mesmo e o PS então não gostava.
O ministro das Finanças, esta semana, reagiu enervadamente a um relatório do Tribunal de Contas, que aponta os desmandos com os gastos nos gabinetes dos membros dos três últimos Governos, incluindo o imaculado Governo Sócrates. O ministro acusou o Tribunal de fazer relatórios sem rigor e a comunicação social de os relatar sem rigor (imaginem Santana Lopes a fazer isto…). Cavaco Silva, antes de ter aderido à cooperação estratégica, fez exactamente o mesmo e o PS então não gostava. Eram os gloriosos tempos das forças de bloqueio. Com a sensível diferença de que, desta vez, ao contrário do que sucedia então, o Presidente do Tribunal de Contas é absolutamente insuspeito de antipatias políticas para com o Governo.
Esta semana, enfim, revelou-se em plenitude a crise do curso do Primeiro-Ministro. Não é o ter ou não uma licenciatura que é relevante. O que é relevante é o Primeiro-Ministro ter alterado a sua biografia profissional e não ter tido a capacidade de desfazer as dúvidas suscitadas pela regularidade do seu processo de licenciatura. Apanhado em contra-pé, José Sócrates não resistiu à apertada e contida farda do marketing profissional que vestiu para chegar onde chegou e perdeu as estribeiras.
Estes episódios mostram como em política nem tudo se controla, nem tudo é cientificamente exequível e, sobretudo, os limites das poses da propaganda. E, pasme-se, tudo graças a um blogue. Sim, um simples blogue, que durante meses investigou metodicamente um assunto, como todos pensávamos que só o jornalismo profissional de investigação podia fazer. A seguir, o Público, seguiu as pisadas da informação e fez estalar o verniz governamental. Para um observador descomprometido não se entende como é que se José Sócrates tem a consciência que tudo está bem mostrou tanto nervosismo, precipitando-se para os jornalistas tentando impedir notícias (imaginem Santana Lopes a fazer isto…).
Em tempos passados mas não muito distantes, talvez viesse esta semana um ex-líder socialista lamentar-se da má moeda e talvez um Presidente da República permanentemente preocupado tivesse chamado o Primeiro-Ministro a Belém para dar explicações. Mas nos imaculados tempos actuais, apenas resta uma dúvida: será que o país fará a vontade a António Vitorino e habituar-se-á mesmo? É que as maiorias absolutas não são sinónimo de eternidade e, muito menos de infalibilidade. Não sei se, nesta fase do campeonato, o PS ainda vai a tempo de o perceber.
(publicado na edição de hoje do Semanário)
"O acordo celebrado entre o Estado e a Teixeira Duarte que indemniza a construtora civil pela suspensão das obras da Cidade Judiciária em Caxias levanta dois tipos de questões. Como é que o Estado foi capaz de iniciar uma empreitada tão dispendiosa quanto esta - orçada em cerca de 60 milhões de euros - de forma tão leviana, sem antes acautelar a sua conformidade com o Plano Director Municipal? Celeste Cardona, então ministra da Justiça, ainda não deu resposta. Depois, alguém no exercício de funções governativas não deve ser responsabilizado quando os seus actos lesam o interesse de todos? A nomeação da ex-ministra para a administração da Caixa Geral de Depósitos é a melhor resposta a esta questão."
Amílcar Correia, no Editorial do Público.