Segunda-feira, 13.10.08
Esfusiantes, muitos julgam estar a assistir à morte do capitalismo de mercado e ao regresso do capitalismo de Estado. Jerónimo pede nacionalizações, o Bloco exige o Estado a fazer tudo ao mesmo tempo e até Sócrates, contagiado pelo “espírito Chavez” proclama o regresso do Estado e faz comícios contra a bolsa, embora sem dizer palavrões.
Julgo, porém, serem manifestamente
exageradas as notícias da morte do capitalismo, do mercado e da ressurreição do estatismo. Quanto a este último, pela simples razão de que ele sempre esteve presente na nossa vida, mais do que agora se recorda e muitíssimo mais do que parecia.
É lamentável ver o Presidente da CIP na televisão dizer com a maior das tranquilidades e sem a mínima contracção que aceitaria que o Estado dirigisse a economia embora temporariamente. O representante dos empresários, dos que é suposto arriscarem o seu capital na criação da riqueza, a colocar-se debaixo do chapéu de chuva do Estado. Este conformismo mostra bem uma cultura secular de empresários assistidos, que é em grande parte responsável pela débil sociedade civil que nós temos.
Por cá, a crise tem uma explicação: os portugueses não gostam de viver do que têm e do que podem. Isso era o pobretanas do Salazar, fuinha e mixuruco, que criava galinhas em S. Bento para poupar o erário público à alimentação oficial. Não. Nós é em grande. Vivemos há décadas a crédito e gostamos. Pouco importa que não criemos a riqueza necessária para sustentar o nível vicioso que nos permitimos. O Estado, garante não é? Ah, e fundamental é sempre proclamar: a culpa é do Bush, a culpa de tudo foi, é e será sempre do Bush.
Eu, que nunca fui liberal puro e duro, não quero o Estado e o socialismo de volta. Eu sou assim, gosto de dizer coisas difíceis.
(publicado no Portal Lisboa)
Quinta-feira, 10.04.08
No Estado Novo existia uma coisa que se chamava condicionamento industrial. A Lei do Condicionamento Industrial destinava-se a evitar que qualquer empresário, nacional ou estrangeiro, entrasse num dado sector industrial, sem autorização governamental e aprovação dos industriais já existentes no sector. A Lei do Condicionamento Industrial era uma barreira à entrada, artificial, institucional, para proteger os interesses já instalados num sector. Numa palavra: só podia instalar uma empresa quem obtivesse a miraculosa licença governamental.
No Estado Velho existe uma coisa chamada condicionamento estatal. A Lei não escrita do condicionamento estatal diz que os grandes negócios em Portugal, os quais só se podem fazer com a intervenção, decisão, licença ou adjudicação do Estado, só podem ser feitos por empresas amigas do ambiente. Mas do ambiente partidário, o qual é dominado pelo bloco central do PS e do PSD, o qual deixa cair, de quando em vez (remeto para a edição de hoje da revista Sábado, páginas 66 e seguintes) uma míseras e avidamente engolidas migalhas ao entreposto de negócios que é de há uns anos para cá o CDS.
Por isso as empresas querem ministros reformados nos seus corpos sociais.
"Há empresas que são aconselhadas a mudar de gestores, se querem partilhar os chorudos negócios que se fazem com o Estado". Rui Moreira, no Público de ontem (link indisponível). Já agora, caro Rui, pode saber-se quais? Cuidado, muito cuidadinho, senão ainda acaba no DIAP.
Sexta-feira, 07.03.08
Eu ainda bebo uma bica a 40 cêntimos, no Tin Tin, aqui na esquina da Av. 5 de Outubro e da Av. elias Garcia. Mas em
Ponte de Lima ainda se bebe a 35 cêntimos. É o mercado a funcionar. Como não é de supôr que estes comerciantes sejam masoquistas, certamente ainda t~em lucro com os preços que praticam. O mais é especulação e gula.
Sexta-feira, 29.02.08
Vai por aí polémica da grossa sobre a qualidade dos serviços prestados pelos CTT. A DECO criticou, os CTT vão meter processo judicial (parece que estão na moda os processos) e leio no
Abrupto, já que não vi, que ontem na SIC Notícias voltou a haver conversa da grossa. Eu só tenho a dizer uma coisa: privatizem-se os correios para as pessoas terem por onde escolher o carteiro que lhes parecer mais rápido e mais barato. A arrogância dos CTT vem do monopólio e a dos seus gestores governamentais do ambiente socrático instalado. Quando se depende da escolha dos clientes tudo é diferente. Quando os clientes estão garantidos à força, tudo pode acontecer.
Quinta-feira, 21.02.08
Parece que alguém descobriu que quem comer entradas, vulgo "couvert", em qualquer restaurante sem as ter pedido para a mesa, não tem de as pagar. Esta ideia que se dão coisas na economia exerce uma atracção. Fatal, mas atracção. A ilusão de que alguém trabalha de borla, ou que faz preços por decreto governamental, só mesmo na defunta URSS e foi o que se viu. Evidentemente que se esse entendimento vingasse, o que os restaurantes fariam seria aumentar genericamente os preços para cobrir esse novo custo. O Governo, santa ingenuidade, também pensou que baixando o IVA dos ginásios os preços dos ginásios desceriam por obra e graça do Espírito Santo (não é piada). Enganou-se. Agora quer impôr preços administrativos, como se fazia nos tempos do gonçalvismo, uma espécie de castrismo com um Fidel de trazer por casa. A economia, definitivamente, não é socialista. E o Estado legislador devia ser o primeiro a perceber que nem ele próprio "dá" o que quer que seja. sai-nos do pelo a todos. Sendo assim, resta aos consumidores escolher o melhor ginásio ao mais baixo preço. Como se continuará a fazer com os restaurantes, se esta peregrina ideia que se pode comer sem pagar vier a ser imposta por decreto.
Quinta-feira, 27.12.07
Cada vez que há uma maioria absoluta é tentador comparar o líder da maioria com Salazar. Foi assim com Cavaco Silva e é assim com Sócrates. Juntem-lhe o ar circunspecto, a administração cuidada dos esgares, e a distância do mundo que convém cultivar para parecer mais inteligente e aí está a reencarnação tão sebastiânica, que é de bom tom presumir que o português mais profundo gosta. Do que não é costume falar é do salazarismo económico. Ora, esse é bem mais pernicioso e está aí pujante, pletórico, esplendoroso.
O pai de todos nós, o Estado, teve o despudor de se meter na gestão do maior banco privado português, que passa assim a segundo maior banco público português. Em nome de coisas tão boas como os interesses dos clientes, dos trabalhadores, dos pequenos investidores e em nome dos deuses, a que usam chamar accionistas de referência. E quem são eles? São os grupos económicos.
A maioria dos grupos económicos portugueses fez-se à conta e à sombra do Estado. A maioria prefere o favor político à competência profissional, o subsídio ao lucro, o contrato público ao risco, o gestor político ao puro administrador. Acatam os sopros do poder, colocam os homens certos, os do sopro, nos lugares certos, para não perderem a bênção do poder político. Em troca o Estado deixa-os descansados na fiscalização, na vigilância, na exigência, até ao dia em que por algum imprevisto a situação deixa de ser gerível a contento da podridão geral. Resultado óbvio: os grupos dependem do Estado, o Estado branqueia os grupos. Os seus gestores dos grupos, moços sempre muito tecno, muito high, muito on e in, circulam entre os grupos e o Estado, não se percebendo bem se são gestores ou comissários. Deram um nome a esta circulação: carreira. Abençoadas carreiras.
P. S. Estas poucas vergonhas não são de hoje. Nem são apanágio deste poder em especial. Já havia antes. Em tempos visitei algumas e fiquei com a ligeira sensação de que não gostaram do intruso. Nessa altura muitas das virgens ofendidas que agora se mostram escandalizadas estavam certamente a banhos.
(publicado na edição de hoje do Democracia Liberal)
(
Boneco do Do Portugal Profundo)
Caro
Tiago, não é necessário ser um liberal puro e duro para perceber que o
mercado e a concorrência em Portugal são uma ficção. Só por ingenuidade ou desinformação não se percebe que o
mercado em Portugal faz escolhas sob condições expressas e implícitas do poder político do momento, seja ele titulado pelo PS, pelo PSD ou pelo CDS. O caso em curso no Millennium Bcp não é uma escolha do
mercado, mas um
descaramento que um verdadeiro mercado não toleraria. Só concedo num ponto: para azar nosso, ao controlo do
mercado pelo Estado, soma-se outra desgraça portuguesa: a falta de verdadeiros empresários que ousem desafiar o poder político. Quando é preciso desafiá-lo, ou seja, quando isso implica custos, negócios comprometidos, etc., e não com dichotes de ocasião para os sobe e desce das secções de economia dos jornais e das revistas.
Sexta-feira, 22.06.07
(
Bijuteria)
Livros, para adultos e para crianças, cd's, canetas, lápis, borrachas,
post it's, caixas de cartão, cartões para telemóveis, porta-chaves, fitas para qualquer coisa, produtos de poupança, sacolas, chávenas, canecas, loiças para pôr tremoço, azeitona ou frutos secos, de repente julguei-me numa loja dos trazentos. Foi então que, surpreendido, reparei que estava, afinal, apenas numa estação dos CTT. Imediatamente me ocorreu como seria bom pôr bancos, livrarias, discotecas, lojas de coisas para casa, de
souvenirs, a poder fazer distribuição postal. Ou seja, consentir a todos os agentes económicos o que o Estado consente aos CTT. O preço dos serviços postais baixaria certamente e se o serviço não tivesse qualidade facilmente mudaríamos de fornecedor. Foi então que me lembrei que em Portugal existe um monopólio dos serviços postais. Como se vê, os monopólios são sempre injustos e prejudicam os cidadãos, para além de descambarem em concorrencia desleal com outros agentes económicos. Os CTT são hoje um hipermercado monopolista de proximidade. Ah e já agora não se esqueçam de mudar
o nome à empresa. CTT Correios de Portugal apenas reflecte um segmento de negócio. Talvez CTT, Lojas de Portugal ficasse mais verdadeiro.