Em política o que parece é, disse alguém um dia. A mudança de Director do Público, hoje efectivada, tem um claro e confessado objectivo: "não escamoteamos o facto de ser nossa primeira obrigação repor essa credibilidade ameaçada, conscientes que estamos da percepção pública de um excesso de peso ideológico no jornal.". Sócrates continua a ganhar no tabuleiro da comunicação social. Depois da TVI, goste-se ou não, agora é o Público. Um a um, lá vão indo todos ao sítio.
Coisinhas boas que, quando temos mais tempo, conseguimos ver à distância: há um julgamento marcado num dos incontáveis processos que o Primeiro-Ministro move, por difamação, contra um orgão de informação de referencia e um seu jornalista. Decorridas as eleições e na semana da audiência de discussão e julgamento, o mesmo orgão de comunicação social de referencia publica uma grande entrevista com o queixoso. Uma coisa em bom, em grande, muita página e belas fotos. A audiencia é adiada. O queixoso entrevistado apresenta uma proposta de transacção judicial para pôr fim ao processo mediante um textinho e tal e uma verba simbólica para comprar umas whiskhas lá para a gataria de casa. O orgão não é a TVI. O jornalista não se chama Manuela. Tudo isto acontece depois das eleições. E eu, para aqui com a revista aberta a ler essa colgateana entrevista, sorrio com tão exuberante mas nojenta exibição de subserviência editorial da comunicação social de referencia ao poder. Seja lá qual fôr. Não haverá, é certinho, visto que a coisa não mete mails, Prós & Contras sobre o assunto. Podíamos nós viver sem tanta e tão transparente independencia da comunicação social de referencia em Portugal? Poder, podíamos. Mas não era, de facto, a mesma coisa...
José Sócrates deixou de falar a Pina Moura porque este, enquanto esteve a representar os espanhóis na administração da Media Capital não acabou com o Jornal de opinião privativo de Manuela Moura Guedes, como Sócrates desejava enquanto era tempo. Pina Moura vingou-se da desfeita, declarando-se "focado", isto é, próximo e concordante com o programa eleitoral do PSD e não do PS, partido pelo qual foi deputado da Nação em acumulação com a representação de interesses de empresas espanholas em Portugal. O grupo Prisa, dantes amigo do PSOE e de Jose Luis Zapatero, por sua vez muito amigo de José Sócrates, zangou-se entretanto com os ditos PSOE e Zapatero, porque estes deram um volumoso negócio de comunicação em Espanha a outro grupo de comunicação que não a Prisa. Vai daí toca de começar a escrever artigos contra o PSOE e Zapatero nos orgãos do grupo. Sabendo do momento delicado, judiciário e eleitoral, que o amigo lusitano de Zapatero vive em Portugal, toca de correr com Moura Guedes da pantalla, sabendo de antemão que o poderosíssimo ónus político do saneamento recairia sobre Sócrates, o especial amigo de Zapatero, ora ódio de estimação do grupo. Cavaco Silva, tomado de esperada amnésia, declarou esperar que o saneamento de Moura Guedes não tenha nada a ver com ameaças à liberdade de informação, esquecido que está do que fez o seu Governo com a RTP e o então elemento de ligação a Moniz, marido da ora saneada da TVI, quando este era Director de Informação da RTP, o ministro Marques Mendes (esse mesmo...) que, ao que consta, famas injustas certamente, tinha uma especial predilecção pela análise antecipada dos alinhamentos do telejornal.
Isto é uma história de pura ficção e qualquer semelhança com a realidade é pura coincidência. E tenho mais ficções para escrever.
«As expressões utilizadas pelo arguido João Miguel Tavares dirigidas ao primeiro-ministro, figura pública, ainda que acintosas e indelicadas, devem ser apreciadas no contexto e conjuntura em que foram publicadas, e inserem-se no direito à crítica, insusceptíveis de causar ofensa jurídica penalmente relevante», afirmou o Ministério Público. Considerou, porém, que o jornalista não ultrapassou os limites na crítica que fez ao chefe do Governo e líder do PS, enquanto figura pública. Verdadeiramente inovador este despacho do Ministério Público, onde, à míngua de matéria criminal, se fazem apreciações de estética de linguagem e de gosto literário. Tem o Ministério Público o direito de adjectivar de indelicadeza e de acinte factos a que não reconhece relevância criminal, que é o que lhe compete apurar? Onde iremos parar? É que, não ser acusado da prática de um crime, mas levar uma reprimenda sobre estética literária, não cabe propriamente nas atribuições legais do Ministério Público. Ficamos a saber que para alguns Procuradores o acinte e a indelicadeza não são crime. Já sabíamos, pelo que se dispensava a conjectura de gosto.
Mais dúvidas inocentes: durante quanto mais tempo durará a coluna de João Miguel Tavares no DN? E quanto tempo teremos de esperar para ver os seus e as suas colegas, em espaço de opinião ou em prime-time, a saírem em sua defesa e em defesa da sempre invocada liberdade de expressão? Um caso a seguir meticulosamente, até porque se existem causas fracturantes em Portugal neste momento, que deviam merecer destaque em todos os espaços de opinião livre, são justamente a corrupção, a traficância, os compadrios, as pressões do poder absoluto do actual sistema, não apenas na Justiça, mas também na comunicação social.
O Papa tem uma doutrina e uma função. Defende-a, promove-a e luta pacificamente pela sua divulgação. Quando a comunidade politicamente correcta começou a dizer a mentira que o Papa tinha apelado ao não uso do preservativo antes da sua visita pastoral a África, um amigo meu, insuspeito de censor, perguntou-me se não era possível responsabilizar o Papa pelas mortes por SIDA em África! Extraordinário. A liberdade de ter opiniões depende de quem as emite e, sobretudo, do facto de se concordar com elas ou não? Até para os espíritos mais improváveis parece que sim. Ora, eu, que não adiro na íntegra à visão e à doutrina da Igreja, mesmo em matéria de moral sexual, digo que o Papa fez muito bem em dizer o que a Igreja pensa e que esse facto devevria ter desencadeado o debate sobre a substância do que efectivamente ele disse e não sobre aquilo que convém a alguns ler no que ele disse. Um Papa não é um comentador. Defenda-se a liberdade de expressão do Papa!
O Ministério Público ordenou que a Camara Municipal de Torres Vedras retirasse uma sátira ao Magalhães do monumento carnavalesco, porque parece que no computador apareciam umas mulheres nuas, coisa obviamente demodé, além do mais, por causa da agendinha fracturante de Hugo José. Pura censura. Penso que seguindo este critério todos temos matéria vasta para entupir os serviços do Ministério Público com trabalhinho para anos a fio. Portugal está amordaçado. A claustrofobia democrática alastrou do Governo arrogante e intolerante do PS e contaminou instituições que deviam ser alérgicas à contaminação. Talvez esteja na altura de o Ministério Público fornecer um manual de instruções sobre o que se pode e não pode fazer... ai que tempos. Ao que isto chegou pela mão do partido das liberdades... É só malhar.
Estarão as palavras a cair em desuso por excesso de uso? Será necessário para comunicar e para nos fazermos ouvir, talvez para gritar, usar o excesso absurdo? Comparar Alberto João Jardim ao ex-patrocinador de terroristas e hoje afamado homem de negócios Kadhafi, como faz hoje um jornalista qualquer em Espanha, ou comparar Bush com Hitler, como fez Freitas do Amaral, ou usar a palavra terrorismo para qualificar algumas atitudes do Ministério Público, pode ser uma técnica de chamar a atenção para problemas reais, mas contribui para perdermos o respeito pelas palavras. Elas deixam de significar o que realmente são, para se normalizarem, para se banalizarem, ao ponto de um dia, assistirmos a mais histórias do menino Pedro e do selvagem lobo.
O inenarrável vereador Sá Fernandes da CML mandou tirar um cartaz político da rua cujo lema era "Imigração, Não!". Onde é que vamos parar com estes Torquemadas hodiernos a mandar na nossa liberdade de expressão? Pouco me importa o partido a que pertence o cartaz. Pretende o vereador que só se afixem cartazes a favor da imigração? Será que só se pode ser a favor da imigração? Viverá o vereador na Albânia de Enver Hoxha? Ou aspirarará à reencarnação de um sub-Mao Zedong? E não há ninguém que páre o vereador? Já não bastavam as figuras tristes que anda a fazer no bolso político do PS em demanda do prolongamento do seu mandato (o poder sabe bem, não é?). Este vereador não faz falta nenhuma. Espero que não lhe renovem o mandato.
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