Helena Roseta acaba de declarar na SIC-Notícias que será candidata à Camara de Lisboa. Se a logística ajudar. Como certamente ajudará, como ajudou da última vez. Outra má notícia em dias seguidos para António Costa. Helena não quer ser o Zé feminino de António. Helena Roseta torna-se na primeira candidata autárquica do partido de Manuel Alegre. Não é proeza ao alcance de todos ainda nem sequer ter o partido e já ter candidata à Camara mais importante do país.
Helena Roseta afirmou mesmo agora na SIC Notícias que coligações na CML não faz, mas que aceita pelouros. Por outras palavras, se falássemos do Governo, coligação não faria mas aceitaria um ministério. Suspiro de alívio por tamanha diferença de comportamento de Helena Roseta relativamente aos partidos de que agora já não gosta. Que clareza meridiana, que jeitinho para esquecer o voto que teve, que igual. Que bom saber que estes independentes são mesmo bons. Arejam imenso. Ó Dr. Costa dê lá o pelouro à Arquitecta.
Sempre defendi a possibilidade de existirem candidaturas de independentes em todas as eleições, incluindo eleições legislativas. Os partidos políticos, expoente da comunidade politicamente organizada, precisam de desafios e de concorrência. Com a consolidação da democracia apossaram-se do Estado e cristalizaram defeitos que têm provocado uma distância dos cidadãos face à política e, sobretudo, têm desacreditado as instituições.
Os monopólios fazem mal ao mercado. Afunilam as escolhas. Cerceiam a liberdade dos consumidores. Acomodam os produtores e os prestadores aos vícios da solidão. Geram sobranceria. A prazo, degradam as estruturas. No mercado político e eleitoral, acontece o mesmo.
Em 1997 foi finalmente consagrada na Constituição a possibilidade de candidaturas independentes às autarquias locais. Com medo de perder benefícios e privilégios, PS e PSD recusaram então a possibilidade de alargar as candidaturas de independentes à Assembleia da República.
Cumpre reconhecer que a experiência das candidaturas de independentes às autarquias locais nos primeiros dez anos de vigência desta possibilidade, em teoria virtuosa e salutar, não tem sido inteiramente positiva. Na verdade, as candidaturas de independentes às Câmaras Municipais têm resultado mais de dissidências partidárias, que recolhem uma facção descontente do respectivo partido de origem e não de projectos de cidadãos sem partido.
O presente caso das eleições intercalares de Lisboa é um triste exemplo disso mesmo. Existem dois supostos candidatos independentes à Câmara Municipal de Lisboa, que de independentes só têm o nome. Helena Roseta sempre foi pessoa de partido. Foi destacada militante, dirigente e deputada do PSD e do PS. Está no seu direito de não gostar de José Sócrates, no que é acompanhada por muito boa gente, independentemente das razões de cada um. Legitimamente viu uma nesga de oportunidade de beliscar o partido que lhe permitiu a carreira política e partidária que teve até agora e mascarou-se de independente para concorrer à CML. Independente, Helena Roseta? Não brinquem…
Carmona Rodrigues, que nunca foi militante do PSD, foi, porém, ministro da República e Presidente da CML, pelo PSD. Exerceu esses cargos interrompendo mandatos a seu bel-prazer, desprezando os compromissos eleitorais assumidos. Parecia uma corrente de ar entre a Praça do Município e o Governo. Durante esse tempo, serviu-se e serviu-lhe a camisola partidária, com a qual praticou a mais partidária das gestões da CML dos últimos anos. Sempre obedeceu aos interesses e às ordens do Partido. Agora, legitimamente descobriu que os partidos são péssimos e declara-se candidato independente à CML. Não brinquem.
Dizem até as más línguas que PS e PSD deram uma oportuna mãozinha na recolha das assinaturas necessárias para as candidaturas que respectivamente lhes interessavam para se atacarem mutuamente. O PSD terá ajudado Roseta. O PS terá ajudado Carmona, de quem aliás, sempre foi aliado na gestão dos interesses camarários. Claro que não é proibido. Mas a transparência exigiria que o assumissem e a independência exigiria que o recusassem.
Estes são dois exemplos paradigmáticos da perversão das candidaturas independentes. Ao contrário do que se pensa são dois exemplos de mau serviço prestado à reforma da democracia. Helena Roseta e Carmona Rodrigues são dois falsos independentes.
(publicado na edição de hoje do Semanário)
O Governo Civil de Lisboa marcou hoje as eleições intercalares para a Camara de Lisboa para dia 01 de Julho. O que faz com que termine hoje o prazo para a constituição de coligações eleitorais e que termine já 2ª feira o prazo para entrega das 4.000 assinaturas necessárias para candidaturas independentes dos partidos. No caso vertente este é o prazo que António Costa, ministro tutelar do Governo Civil de Lisboa e putativo adversário de Helena Roseta na mesma eleição decidiu democraticamente dar a Helena Roseta para conseguir concorrer contra ele. Viva a democracia! Ao que isto chegou.
Não é de esquerda nem de direita. Pois não. Ou se tem ou não se tem. Quando não se tem,
incomoda. E muito bem.
Ouvinte da Antena Um acaba de identificar Helena Roseta como Bastonária da Ordem dos Advogados. Será socialista este ouvinte?... Ah, acrescento que no estúdio ninguém corrigiu o ouvinte. Será mesmo uma conspiração?...