Quinta-feira, 27.12.07
Cada vez que há uma maioria absoluta é tentador comparar o líder da maioria com Salazar. Foi assim com Cavaco Silva e é assim com Sócrates. Juntem-lhe o ar circunspecto, a administração cuidada dos esgares, e a distância do mundo que convém cultivar para parecer mais inteligente e aí está a reencarnação tão sebastiânica, que é de bom tom presumir que o português mais profundo gosta. Do que não é costume falar é do salazarismo económico. Ora, esse é bem mais pernicioso e está aí pujante, pletórico, esplendoroso.
O pai de todos nós, o Estado, teve o despudor de se meter na gestão do maior banco privado português, que passa assim a segundo maior banco público português. Em nome de coisas tão boas como os interesses dos clientes, dos trabalhadores, dos pequenos investidores e em nome dos deuses, a que usam chamar accionistas de referência. E quem são eles? São os grupos económicos.
A maioria dos grupos económicos portugueses fez-se à conta e à sombra do Estado. A maioria prefere o favor político à competência profissional, o subsídio ao lucro, o contrato público ao risco, o gestor político ao puro administrador. Acatam os sopros do poder, colocam os homens certos, os do sopro, nos lugares certos, para não perderem a bênção do poder político. Em troca o Estado deixa-os descansados na fiscalização, na vigilância, na exigência, até ao dia em que por algum imprevisto a situação deixa de ser gerível a contento da podridão geral. Resultado óbvio: os grupos dependem do Estado, o Estado branqueia os grupos. Os seus gestores dos grupos, moços sempre muito tecno, muito high, muito on e in, circulam entre os grupos e o Estado, não se percebendo bem se são gestores ou comissários. Deram um nome a esta circulação: carreira. Abençoadas carreiras.
P. S. Estas poucas vergonhas não são de hoje. Nem são apanágio deste poder em especial. Já havia antes. Em tempos visitei algumas e fiquei com a ligeira sensação de que não gostaram do intruso. Nessa altura muitas das virgens ofendidas que agora se mostram escandalizadas estavam certamente a banhos.
(publicado na edição de hoje do Democracia Liberal)


publicado por Jorge Ferreira às 21:57 | link do post | comentar

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