Segunda-feira, 03.12.07
"Passados três dias já todos se esqueceram da greve, a escolha de uma sexta-feira podendo ser considerada um pouco oportunista acaba por se virar contra os sindicatos, o impacto televisivo fica-se pelos noticiários na noite e passado o fim-de-semana tudo regressa à normalidade. Para a história fica mais uma disputa numérica, com os sindicatos a apontar para números tão irrealistas que dão razão aos do governo."
Haja alguém na esquerda que saiba pensar...
Sexta-feira, 30.11.07
Hardcore, por
Rui Castro, no 31 da Armada.
Hoje, véspera de fim de semana, os funcionários públicos decidiram fazer uma greve, começando assim mais cedo que os demais trabalhadores o gozo do fim de semana, por causa das medidas do Governo relativamente à alegada reforma da Administração Pública. Em França, os funcionários públicos decidiram fazer uma greve porque Sarkozy decidiu eliminar algumas discriminações de que beneficiavam os funcionários públicos relativamente aos outros franceses relativamente à segurança social.
A verdade é que há décadas sucessivas gerações de gestores políticos das instituições públicas têm engordado irresponsavelmente o exército de funcionários pagos pelo Orçamento, sem racionalidade, sem critério, sem escrutínio e perante a indiferença geral. Hoje, Portugal é uma sociedade mais dependente do Estado do que nunca, se considerarmos o número de funcionários, o número de pensionistas, a dimensão dos agregados familiares deles dependentes, já para não falar nos subsídios que o Estado distribui.
Mudar esta situação dói. Dói politicamente, para quem precisa do voto dos eleitores habituados a viver do Estado. Dói socialmente, porque gera movimentos de contestação no sentido de conservar o estatuto adquirido. O país não aguenta mais a manutenção desta situação, que consome recursos crescentes, provoca o definhamento da economia e gera desigualdades entre os dois países: o que vive e arrisca à sua custa e o que vive encostado ao esforço invisível, anónimo e fiscalmente devastador da outra metade.
Por cá, salvo alguns pormenores que não tocam o essencial, a reforma da Administração Pública significa emprego e não trabalho, cursos e cursos de formação, direitos e mais direitos que retiram muitos dias de trabalho ao calendário dos funcionários, pintar balcões, instituir livros de reclamações, criar números de atendimento telefónico aos utentes, essa horrorosa designação das pessoas que pagam do seu bolso os serviços públicos e que são accionistas, isto é, proprietários e não meros usufrutuários dos serviços. No essencial, Estado, autarquias, institutos públicos, continuam a viver num mundo irreal, onde não se vê a cara de quem paga o que se decide gastar. A factura corre o risco de se tornar incobrável.
Para mudar isto só há um caminho: como o país não produz o suficiente para pagar tudo, tem de se mudar as funções do Estado. O resto é conversa de seminários e conferências.
(publicado na edição de hoje do Diário de Aveiro)
Quarta-feira, 30.05.07
Na hora do balanço da greve geral parcial, particular, parcelar, Carvalho da Silva recusou avançar com números globais de adesão, porque «as pessoas não são números», mas forneceu dados sectoriais e acusou o Governo de divulgar valores «mentirosos». Ora aí está uma lógica imbatível. Eu não digo a verdade , mas o que tu dizes é mentira. Um extase do sindicalismo moderno.

(
Do blogue de camapnha de Jerónimo de Sousa)
Desde que Sócrates tomou conta do país gerou-se um certo chique à esquerda. Carvalho da Silva, um sindicalista que não exerce um posto de trabalho há décadas, é o máximo expoente desse chique. Em desgraça no PCP (ele não queria o simulacro de greve geral de hoje, qual geral, qual carapuça!), teve de se sujeitar às ordens do Comité Central. Há quem queira promover o homem a Manuel Alegre de segunda nas próximas eleições presidenciais. Como independente certamente... O resto do caviar não teve alternativa senão ir atrás do diktat e dar uma de operário ofendido. Como compete exclusivamente aos trabalhadores definir o âmbito da greve, não é preciso razão. Qualquer uma serve. O problema é outro: é que as greves deixaram de ter consequência porque o mundo mudou. Quem se lembra da última greve geral? Ninguém. O que restará desta? Nada, excepto a palhaçada do costume sobre os números e umas páginas de jornal amanhã. Os sindicatos e o PCP não mudaram. Tanto pior para a realidade. E Sócrates agradece.
Com aquela tendência para a banalidade que o caracteriza Cavaco Silva afirmou que a greve é um direito constitucional. E que não comenta greves que ainda não se realizaram. Se eu fosse jornalista pedia-lhe uma declaração amanhã. Talvez obtivesse então a resposta de que o Presidente não comenta greves que já se realizaram. Mas fez bem Cavaco Silva em divulgar a Constituição. Ninguém sabia que o direito à greve é um direito constitucional. Que bom.
Eu trabalho.
P. S. O Sitemeter aderiu à greve geral?