Fernando Pessoa foi-me apresentado pela minha professora de Português do antigo 6º ano do Liceu, Julieta Synek, que me mandou fazer um trabalho sobre a Mensagem. Fiz o trabalho, tive 14 valores, ainda me lembro e ainda o guardo, e esse facto permitiu-me penetrar o universo pessoano através de Jacinto do Prado Coelho (o eterno Unidade e Diversidade em Fernando Pessoa).Só depois fui lendo os outros. O próprio e o Caeiro, o Campos e o Reis. Senti, como só em momentos raros, como a cada leitura enriquecia o meu entendimento da vida e dos eus que em tropel habitavam um homem só, que havia sido, aliás, visita da casa de minha avó e do qual ela me transmitiu uma imagem de educação e de discrição que nada auguravam do que se passava por aquela cabeça. A minha vida divide-se em duas partes: antes de ler Pessoa e depois de ler Pessoa. Se a poesia é "um murro no estômago", como diz o João, os ensaios são, por vezes, uma chicotada psicológica que nos faz ver claro muitas coisas que antes não encontrávamos maneira de exprimir. Pessoa é um amigo para sempre. Até que a vida se nos cumpra. Mesmo que falte cumprir Portugal.

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