Já agora: sobre o estado da Nação propriamente dito, que não sobre os ímpetos mimícos de um ex-ministro, alguém sabe alguma coisa do que lá se falou?
Ontem debateu-se o estado da Nação na Assembleia da República. Discursos repetitivos, iguais aos que temos ouvido nos últimos tempos a José Sócrates e às oposições. Já a preparar eleições, cada lado repete o que julga que dará votos
O país tem, entretanto, assistido ao debate do estado de outra “Nação”, isto é, do Benfica. Declaração de interesses: sou do Benfica. Mas não penso que esse facto implique um alinhamento cego a favor de tudo o que lá se faz, nem acho que o facto de se ser adepto de um clube implique forçosamente uma acefalia fanática. Tudo o que se tem passado nas eleições do Benfica é uma miniatura das trapalhadas que se passam noutras instituições do país.
Eleições antecipadas sem razão só com o objectivo de impedir outras candidaturas. Um processo eleitoral eivado de polémicas e de incertezas, tudo isto após anos de desvario na gestão desportiva, traduzida em apenas cem jogadores já contratados desde que Luís Filipe Vieira é Presidente. Mais ou menos como a quantidade de ministros que vão desfilando pelos Governos…, exactamente com os mesmos resultados num lado e noutro: maus.
Luís Filipe Vieira é uma espécie de José Sócrates do Benfica e José Sócrates é uma espécie de Luís Filipe Vieira do Governo. Prosápia, propaganda, arrogância, esquemas, e um imenso falhanço nos resultados.
A tudo isto somam-se outros contrastes de outras nações. A da Justiça, por exemplo. O senhor Mad ficou Off em menos de um ano. Investigado, julgado e condenado num ápice, pela Justiça norte-americana. Por cá, os bancos, todos, segundo o Procurador-Geral da República, andam sob investigação há vários anos, os furacões demoram uma eternidade e julgamentos nem vê-los. Para já não falar do caso Freeport, que dura há vários anos, sem consequência. E outros, muitos outros, com protagonistas anónimos, que não saiem nos jornais.
Bem sei que os sistemas judiciários e até legais norte-americano e português não são comparáveis. Basta ver uns quantos episódios de qualquer série da Fox para o perceber. Mas é assombrosa a comparação das eficácias entre lá e cá. Olhemos para que Nação olharmos a visão que temos não é lá muito animadora.
Verão 2008, Turismo, Aventura e actividades radicais, por Pedro Guedes, no Último Reduto.
É inglório desejar que os debates do estado da Nação sejam debates profundos sobre o rumo, a estratégia e o futuro do país. O Governo diz que tem feito reformas mas os resultados não se vêem. Ninguém mede o impacto das medidas. Apenas se sabe dos anúncios e de anúncio em anúncio o país vai saltitando e estagnando. Mais uma vez importa dizer que o problema do país não se resolve com medidas avulsas, de décimas de imposto aqui e décimas de imposto ali.
O ministro Jaime Silva transformou-se num bom barómetro para avaliar o falhanço das políticas económicas e financeiras que a União Europeia e o Estado português têm executado nas últimas décadas.
Durante anos ouvíamos dizer que tínhamos agricultores a mais, que tínhamos que deixar de cultivar certos produtos e cultivar outros. Andámos a toque de subsídios da PAC. Produzíamos o que dava mais subsídio, independentemente de precisar ou não. Ficou na história a tara do giracídio, o subsídio á produção de girassol que pintou os campos de amarelo e castanho, sempre na demanda do subsídio.
O ministro da Agricultura e Pescas anunciou esta semana na Assembleia da República a revisão da Lei do Arrendamento Rural e a criação de bancos de terras como forma de combater o abandono das terras e rejuvenescer o sector agrícola. Ou seja, agora temos agricultores a menos, temos de produzir mais, temos de semear mais, cereais outra vez, depois de termos abandonado os cereais.
"As reformas do Ministério da Agricultura não acabam, porque não aceitamos que a média de idades dos agricultores seja de 55 anos", disse Jaime Silva, acrescentando que "é necessário encontrar terras para os jovens que querem investir na agricultura". Segundo Jaime Silva, a propriedade privada vai ser salvaguardada com a nova lei do Arrendamento, mas o aluguer de terras será agilizado com as novas regras. E eu que pensava que andávamos a fazer isto desde que aderimos à CEE quando os ministros diziam que era necessário apoiar os jovens agricultores, facilitar o acesso à terra e modernizar as explorações agrícolas…
Mas parece que não. Andam a brincar com o país há demasiado tempo. Andam a repetir programas há anos a fio, o que significa que ninguém os cumpre. Lá estão os anúncios, mais anúncios, sempre anúncios.
No fundo o estado da Nação é mesmo esse: um Estado de anúncios. É, pois natural que a pseudo-oposição que temos debata também os anúncios. Tanto pior para a realidade…
Ontem debateu-se o estado da Nação na Assembleia da República. Nem sempre o estado da Nação que se debate na Assembleia da República tem muita correspondência com a vida real dos cidadãos. Importa, por isso, fazer um exercício prático sobre a vida concreta de todos os dias e nada melhor do que coleccionar um conjunto de factos, para que, com distância e lucidez, percebamos todos se gostamos do país em que vivemos, tal qual ele tem sido governado, não apenas pelo PS mas pelos outros partidos que já estiveram no Governo. Vamos a isto.
1. Uma adolescente de 16 anos pode fazer livremente um aborto mas não pode pôr um piercing.
2. Um cônjuge para se divorciar, basta pedir.
3. Um empregador para despedir um trabalhador que o agrediu precisa de uma sentença judicial que demora vários anos a sair.
4.Na escola, os professores são agredidos pelos alunos. Os professores nada podem fazer, porque a sua progressão na carreira está dependente da nota que dá ao seu aluno.
5. Um jovem de 18 anos recebe 200 euros do Estado para não trabalhar; um idoso recebe de reforma 236 euros depois de toda uma vida do trabalho.
6.Um marido oferece um anel à sua mulher e tem de declarar a doação ao fisco.
7.O mesmo fisco penhora indevidamente o salário de um trabalhador e demora 3 anos a corrigir o erro.
8.O Estado que queria gastar 6 mil milhões de euros no novo Aeroporto da Ota recusa-se a baixar impostos porque não tem dinheiro.
9. Nas zonas mais problemáticas das áreas urbanas existe 1 polícia para cada 2 000 habitantes; o Governo diz que não precisa de mais polícias.
10.Numa empreitada pública, os trabalhadores são todos imigrantes ilegais, que recebem abaixo do salário mínimo e o Estado não fiscaliza nem pune.
11. Um professor é sovado por um aluno e o Governo diz que a culpa é das causas sociais.
12.Numa entrevista à televisão, o Primeiro-Ministro define a Política como 'A Arte de aprender a viver com a decepção'.
13.Se um polícia bate num negro é uma atitude racista, mas se um bando de negros mata 3 polícias, não estão inseridos na sociedade.
14. O Governo incentiva as pessoas a procurarem energias alternativas ao petróleo e depois multa quem coloca óleo vegetal nos carros porque não paga ISPP (Imposto sobre produtos petrolíferos).
15. O ministério do Ambiente incentiva o uso de meios alternativos ao combustível, mas no edifício do ministério do Ambiente não há estacionamento para bicicletas, nem se sabe de nenhum ministro não vá de carro para o gabinete.
16. Nas prisões são distribuídas gratuitamente seringas por causa do HIV, mas como entra droga nas prisões?
17. No exame final do 12º ano quem é apanhado a copiar chumba o ano, mas o Primeiro-Ministro fez o exame de inglês técnico em casa, mandou por fax e é engenheiro.
18. Um jovem de 14 anos mata um adulto, não tem idade para ir a tribunal, um jovem de 15 leva um tabefe do pai, por ter roubado dinheiro para droga e é violência doméstica.
21. Em Janeiro, começa a descontar-se o IRS, mas só se recebe o excesso em Agosto do ano seguinte; quando não se pagam os impostos a tempo e horas passado um dia o Estado já cobra juros.
22. Quando se fecha a janela de uma varanda é uma obra ilegal, mas constroem-se bairros de lata e ninguém vê.
23. Se um filho não tem cabeça para a escola e com 14 anos vai trabalhar com o pai num ofício respeitável, é exploração do trabalho infantil; mas se um filho, com 7 anos, participa em gravações de telenovelas 8 horas por dia ou mais então a criança tem muito talento, sai ao pai ou à mãe.
24. Pagam-se 50 cêntimos por uma seringa na farmácia para dar um medicamento a um filho, mas um toxicodependente não paga nada.
Esperavam grandes análises políticas e sociológicas? Não. A melhor análise é a da comparação da realidade com a realidade.
À vossa reflexão.
No debate do estado da Nação, a Nação foi a grande ausente. Parece ser uma palavra maldita que fica mal usar. Talvez se deva mudar o nome do debate para debate sobre o estado do sítio. Que o país é cada vez mais um sítio e menos uma Nação. E quando os deputados e os governantes têm medo de usar a palavra está tudo dito.
Quanto ao debate em si a conclusão óbvia é a de que José Sócrates meteu a oposição no bolso. A oposição só quer mais daquilo que o PS faz. Da extrema-esquerda queque e gasta do Bloco, passando pelo partido amigo dos terroristas, continuando pelos socialistas do PSD e acabando nos tristes do CDS, todos se limitam a querer mais do que o PS quer. Sócrates vai-lhes fazendo, matreira e metodicamente a vontade. E ri-se, deve rir-se mesmo muito lá por dentro.
(publicado no Democracia Liberal)
Sócrates tem passado a vida a dizer que não pode baixar impostos. Agora vai anunciar medidas fiscais de combate à crise que, segundo o Governo, vão diminuir a carga fiscal. O Governo está a viver uma espécie de esquizofrenia e não sabe verdadeiramente o que fazer. Essa é que é essa.
Dou uma volta pelos blogues. Dou uma vista de olhos pelos jornais. Nunca vi tanta aridez na véspera de um debate sobre o estado da Nação. Há pessoas que passam a vida a dizer que tudo o que acontece que não seja política é bom para´desviar as atenções das misérias governativas. Não concordo. Mas acho que a falta de interesse pelo debate, que não pelo estado da Nação, deriva do facto de toda a gente já ter percebido que o estado da Nação é mau. Factos são factos.
Na próxima quinta-feira realiza-se o debate sobre o estado da Nação, que tradicionalmente encerra o ano parlamentar, antes dos deputados partirem para a praia, de férias. A SEDES, liderada pelo primeiro ministro das Finanças de Sócrates, abriu as hostilidades e acusa o Primeiro-Ministro de eleitoralismo. Aproveito para fazer um desabafo: não estou certo que Sócrates já tenha decidido se se apresenta ou não às próximas eleições legislativas. Digamos que é apenas um pensamento meramente especulativo.
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