(
Alizee Poulicek)
Havia fundadas esperanças que a profunda crise belga fosse atenuada com a eleição da Miss Bélgica, num concurso promovido por uma televisão local. Ganhou, com indiscutível aprumo e justiça, como se pode ver pela fotografia, a jovem de Liége Alizee Poulicek. À primeira vista esta jovem tem todos os predicados necessários à pacificação dos espíritos. Tudo estava a correr bem. Aplausos, descontracção, as lágrimas indispensáveis das pequenas, alegria, festa. Até que começaram as entrevistas. E aí, a jovem de Liége entornou o caldo. A uma inocente pergunta que lhe foi feita em flamengo, a pequena teve a sinceridade de dizer que não tinha percebido a pergunta, visto que não dominava o holandês. O que a moça foi dizer! No dia seguinte, a imprensa flamenga não fez por menos: «A crise invade os mais ligeiros sectores da vida social. É a primeira valã eleita Miss Bélgica desde 2003 e não fala bem o holandês. Isso não é fácil de engolir", escreveu o diário «Het Laatste Nieuws». Realmente grave esta situação. O que é a crise governamental comparada com isto?
(Via
Fumaças)
Não, não é gralha. Para os correios belgas é mesmo assim. Os Correios da Bélgica, para comemorar os 100 anos do nascimento de Hergé, fizeram uma colecção de selos com as capas dos vinte e quatro álbuns do Tintin, onde cada um tem o título numa língua diferente. Então não é que aquelas sumidades culturais ignoram que existe a língua portuguesa, e chamam-lhe brasileira! E ainda por cima, o álbum “L’oreille cassé” está reproduzido da edição brasileira como “O ídolo roubado” em vez da edição portuguesa, que está correcta, “A orelha quebrada”.
Eu não sei se a ortodoxia dominante e, sobretudo, a efeméride prevalecente do dia, me permitem arriscar dizer que nunca tive nenhuma simpatia especial pela Bélgica. Desde pequeno que me habituel a perder com os belgas nas selecções, o Anderlecht rapinou uma Taça UEFA ao Benfica e, confesso, de Bruxelas tenho a ideia do centro do federalismo e de um poder burocrático estúpido, que tudo quer regular, das gorduras na comida ao tamanho da salsicha, do raio da roda da bicicleta ao preservativo. Quando lá fui pela primeira vez fiquei contente: uma terra sem Sol, fria, escura, cinzenta, triste, confirmava todos os meus preconceitos e é sempre bom ver que a realidade nos dá razão...
Estou, pois, à vontade para dizer que detestei ver uns quantos a assobiar o hino da Bélgica ontem no Estádio do Sporting. Eu sei que eles têm lá um moço que disse umas alarvidades sobre o Cristiano Ronaldo, eu sei que um tipo qualquer que jogou no F. C. Porto deu umas murraças não sei a quem no aeroporto ( certamente não está a par das últimas notícias...), eu sei que o treinador deles, mais uma vez dando-me razão ao preconceito é uma criatura malcriada que não falou aos jornalistas portugueses antes do jogo ( e depois também não, honra lhe seja à teimosia). Mas assobiar um hino nacional é uma alarvidade.
E o moço que ameaçou o Ronaldo de umas trancadas valentes aos dois minutos no fim do jogo foi pedir desculpa ao próprio. Eu, que não sei se posso dizer hoje que nunca simpatizei com a Bélgica e com os belgas, gostei de ver. E não sei, francamente não sei, se os portugueses que assobiaram o hino nas bancadas seriam capazes de fazer o mesmo.