Sexta-feira, 02.10.09

1. O maior partido português tem actualmente 3.678.536 militantes e é incapaz de gerar uma solução de Governo. É o Partido da Abstenção. Portugal será, assim, governado pelo segundo maior partido, o PS, que representa actualmente 21,75% dos eleitores recenseados. Este resultado significa, deveriam todos os partidos e instituições políticas da República assumirem-no, uma pesada derrota da democracia. Duvido que o façam. O Partido da Abstenção não tem porta-voz nem vai à televisão. Muito menos é susceptível de ser convidado para a novíssima liturgia dos Gato Fedorento. Não existe, portanto. Cá vamos, pois, votando e rindo.

 

2. Finalmente Cavaco Silva falou ao país. O Presidente não se dá nada bem com as comunicações das 20 horas para os telejornais. Já com o problema dos Açores, tendo razão na substância, não acertou no método. Voltou a acontecer. O que mais enerva em Cavaco Silva é que se fica sempre com a sensação de que ele não diz tudo o que tem para dizer. Se não pode dizer tudo o que tem para dizer é porque está refém de alguma coisa. Do que será? O certo é que quanto mais fala mais permite a José Sócrates fazer figura de estadista. Suprema ironia.

 

3. Quanto à questão de fundo, o que há a dizer é que nenhuma democracia saudável pode viver em estado de suspeição permanente sobre a segurança e a privacidade das comunicações, sejam elas electrónicas, telefónicas ou postais. Mas é nesse estado que vivemos, aparentemente para sossego das esquerdas, outrora tão reactivas a tudo quanto fosse suspeita de violação de direitos fundamentais dos cidadãos e hoje tão domesticadas. E este estado de suspeição não se resolve com mezinhas nem com jogos de sombras. Ele resulta de um sistema que está em vigor e que foi construído pelo PS, pelo PSD e pelo CDS, relativamente ao modelo de serviços de informações, sua orgânica e funcionamento. Nunca, como desde que José Sócrates chegou ao poder este tema tem estado tão presente na agenda política… por que será? Ah, sim, as campanhas negras, claro…

 

4. Soube-se também esta semana que o Ministério Público decidiu fazer buscas a quatro escritórios de advogados, ao que se diz, à procura de um contrato do … Estado! Três anos depois, o Ministério Público decidiu que é importante ler um contrato do Estado de compra de submarinos. Três anos. E decide procurar esse contrato nos escritórios dos advogados? É estranho. É suposto haver arquivos nos ministérios. Terá procurado no Estado e o contrato desapareceu das prateleiras do Estado? Alguém o levou para casa (não era a primeira vez que desapareciam documentos de Estado dos ministérios para casa de ministros…)? Se não fosse grave seria cómico. Por vezes temos a sensação que alguém anda a brincar com assuntos sérios. A brincar demais. Simultaneamente, a Associação Sindical dos Juízes declarou publicamente a sua perda de confiança no Conselho Superior de Magistratura. Na Justiça, isto é mais ou menos a mesma coisa que o conflito aberto entre Cavaco e Sócrates. Mas a Justiça no fundo reflecte o estado de degradação geral em que as instituições se encontram.

 

5. Não admira, por tudo, que o Partido vencedor das eleições tenha crescido tanto.

 

(publicado na edição de hoje do Semanário)



publicado por Jorge Ferreira às 10:22 | link do post | comentar

Domingo, 27.09.09

A maior abstenção de sempre em eleições legislativas. É bem feito. É mau para a democracia, mas o sistema merece. Assim como assim, apoosto que ninguém se preocupará muito com isso.



publicado por Jorge Ferreira às 19:39 | link do post | comentar

Sexta-feira, 26.06.09
Enquanto em Portugal os cidadãos desprezam olimpicamente o exercício do seu direito de voto, no Irão, uma mulher chamada Neda Agha-Soltan, com 26 anos, morreu a exigir que o seu voto contasse. Uma lição aos preguiçosos eleitores europeus que julgam que é a abstenção o caminho mais curto para a regeneração da política, o que, como se sabe, não sucede.

Por essa Europa fora e inclusivamente em Portugal os ayatollahs em exercício podem estar descansados. Nada lhes virá a pesar na consciência. Nem as abstenções em massa, nem a forma como desprezam a vontade dos eleitores, nem a forma como corrompem ou deixam corromper o Estado, nem as mentiras compulsivas com que alimentam a ilusão de governar.

Esta coisa bizarra de alguém morrer pelo voto é um anacronismo que, para os civilizados europeus foi actualidade nos séculos passados, em que se lutava nas ruas pelo direito ao sufrágio contra os absolutismos de antanho. Para eles nós estamos num estado mais avançado de civilização em que o sufrágio é um direito adquirido nos sistemas jurídicos, embora se esteja a transformar numa espécie de direito vazio por falta de exercício. Nada que nos deva atormentar em demasia, visto que, mesmo em crise, é suposto vivermos numa ilha de progresso e de superioridade económica e social face aos atrasados asiáticos e aos esquecidos e explorados africanos.
(publicado na edição de hoje do Semanário)


publicado por Jorge Ferreira às 10:17 | link do post | comentar

Segunda-feira, 15.06.09

Depois das eleições de Domingo todos voltámos a ouvir os lugares comuns do costume sobre a abstenção, sobre a necessidade de votar e o Presidente da República aproveitou até o 10 de Junho, data em que se comemora Portugal, em que se comemora Camões e em que se comemoram as Comunidades para fazer mais um apelo à participação dos portugueses nas eleições. Mas de uma maneira geral parece que ninguém está interessado em analisar as causas da doença, limitando-se a proferir frases mais ou menos imaginativas sobre os sintomas.

 

Ninguém pára para pensar na falta de legitimidade e de representatividade das instituições europeias, que hoje resultam de complicados cozinhados políticos propositadamente feitos em linguagem esotérica para ninguém perceber. Ninguém parece interessado, e falo dos protagonistas políticos que exercem funções de representação nos órgãos de soberania cá dentro e nas instituições europeias em Bruxelas em arrepiar caminho e ouvir o povo. Ouvir o povo, precisamente uma coisa de somenos para esta Europa cada vez menos próxima dos cidadãos, cada vez mais imperceptível pelo comum dos mortais.

 

Limito-me, assim, a deixar falar por mim quem certamente fala melhor do que eu. O discurso de António Barreto (parecia até adivinhar o discurso que vinha a seguir e a repetição das tais frases feitas sobre a abstenção…) no 10 de Junho devia ser o programa da República para sair da crise. Duvido que alguém se atreva.

 

“Mais do que tudo, os portugueses precisam de exemplo. Exemplo dos seus maiores e dos seus melhores. O exemplo dos seus heróis, mas também dos seus dirigentes. Dos afortunados, cujas responsabilidades deveriam ultrapassar os limites da sua fortuna. Dos sabedores, cuja primeira preocupação deveria ser a de divulgar o seu saber. Dos poderosos, que deveriam olhar mais para quem lhes deu o poder. Dos que têm mais responsabilidades, cujo "ethos" deveria ser o de servir.

 

Dê-se o exemplo e esse gesto será fértil! Não vale a pena, para usar uma frase feita, dar "sinais de esperança" ou "mensagens de confiança". Quem assim age, tem apenas a fórmula e a retórica. Dê-se o exemplo de um poder firme, mas flexível, e a democracia melhorará. Dê-se o exemplo de honestidade e verdade, e a corrupção diminuirá. Dê-se o exemplo de tratamento humano e justo e a crispação reduzir-se-á. Dê-se o exemplo de trabalho, de poupança e de investimento e a economia sentirá os seus efeitos.

 

Políticos, empresários, sindicalistas e funcionários: tenham consciência de que, em tempos de excesso de informação e de propaganda, as vossas palavras são cada vez mais vazias e inúteis e de que o vosso exemplo é cada vez mais decisivo. Se tiverem consideração por quem trabalha, poderão melhor atravessar as crises. Se forem verdadeiros, serão respeitados, mesmo em tempos difíceis.”

 

A isto chama-se, em bom português, tocar na ferida.

(publicado na edição de 12 de Junho de 2009 do Diário de Aveiro).



publicado por Jorge Ferreira às 09:32 | link do post | comentar

Domingo, 22.07.07
Uma: Inês Pedrosa. Escreveu ontem no Expresso que os abstencionistas deviam ser impedidos de concorrer a empregos e obter bolsas. Ora aí está. Esta senhora tem um apurado sentido democrático. Desde que toda a gente faça o que ela entende que deve ser feito. Já houve quem quisessse meter a reacção no Campo Pequeno. Esat senhora é mais imaginativa: matem-nos à fome. Nem os gonçalvistas se lembraram desta.


publicado por Jorge Ferreira às 17:49 | link do post | comentar

Domingo, 11.02.07
O mesmo índice de participação eleitoral que deixa toda a gente triste quando se verifica em eleições europeias, deixa toda a gente contente por ter ocorrido num referendo. É bom lembrar para que se entenda que este referendo, como os anteriores, NÃO mobilizaram a maioria do eleitorado e que isso é mau.


publicado por Jorge Ferreira às 21:37 | link do post | comentar

JORGE FERREIRA
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