Mesmo quando se é da oposição julgo que se tem um certo orgulho em reconhecer o nível de um Governo e dos seus membros. Eu, pelo menos, gosto de ter. Divergências à parte, projectos diferentes à parte, um Governo representa, para todos os efeitos o país e a todos nós, tenhamos ou não votado no partido que o formou.
Podem chamar-lhe pieguice, ingenuidade, mas penso sinceramente assim.
É por isso que o Governo de Sócrates, com o próprio à cabeça, me constrange. Não só adopta políticas erradas em sectores essenciais, como não adopta outras que se impunham. Cá está: aqui estamos no puro domínio das ideias e dos programas. Mas para além disso, o nível político e técnico dos membros do Governo é lamentavelmente baixo. O que se comprova de várias maneiras: pelas figuras tristes que aceitam fazer sem pestanejar, pela falta de consistência das suas afirmações, pela insensibilidade ao mundo real que demonstram, pela ausência de valores que mostram (não) ter.
É verdade que há alguns que abusam e são verdadeiros compêndios do desastre político. Mário Lino e Manuel Pinho são imbatíveis. Dizem tudo e o seu contrário com o mesmo sorriso estampado no rosto. Convivem com um à vontade inconsciente com a sua própria falta de credibilidade. Mário Lino consegue ser ministro depois do episódio da Ota. Está tudo dito. Manuel Pinho consegue ser ministro depois de ter em poucos meses passado de foguetão do fim da crise ao “isto nunca mais vai ser como dantes”. Por que precisam estes homens de fazer estas figuras? Eis um mistério que, julgo, jamais, resolverei. A ministeriagem tem razões que a razão desconhece.
Depois temos o lote dos dispensáveis: ambiente, cultura, agricultura. O lote dos ministros políticos segue a mesma bitola fraca.
Mas a cereja no bolo é José Sócrates. Basta um comício de conforto para tratar o sistema financeiro e a bolsa como se fosse o líder do PCP. Jerónimo de Sousa deve estar com ciúmes do estilo. Gaba-se de ter feito ajoelhar a Polónia na negociação de um Tratado. Não tem um pensamento sem ser a propaganda. Não possui um desígnio que não seja o de gostarem dele. Dos Estados tem a noção dos deslumbrados: gaba-se e confessa ter dito a um soberano que o fez ajoelhar na negociação de um Tratado. Troca de promessas eleitorais como um teen-ager muda de t-shirt. Um político lamentável.
O último exemplo é a forma como reagiu à crise financeira, imputando aos EUA a responsabilidade da resolução da crise, enquanto ao mesmo tempo, por essa Europa fora, os bancos vão falindo, tal qual nos EUA e esquecendo a economia global em que hoje vivemos. Na mesma semana em que o Governo injecta 390 milhões de euros na CGD e em que o ministro das Finanças, outro credível especialista em mudar de ideia consoante a realidade o vai traindo, afirma sem rebuço que o Governo não hesitará em nacionalizar se for caso disso.
Bem sei que os portugueses têm muitos defeitos, mas que diabo, mereciam um bocadinho melhor. Bem sei que têm responsabilidade, pois votaram. E, se calhar até vão voltar a votar. Isso até pode fazer deste Governo um Governo vitorioso, mas não fará certamente dele um Governo forte.
(publicado na edição de hoje do Semanário)
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