Sexta-feira, 12 de Setembro de 2008

Os partidos políticos existem para chegar ao poder, aos vários níveis de poder político instituídos na sociedade. Chegar ao poder não significa, porém, o mesmo para todos os partidos por igual. Para uns é ganhar eleições para formar Governo, sozinhos ou em coligação, partilhando uma parcela de poder para garantir longevidade e condições de exercício do seu poder maioritário. Para outros é simplesmente ter mais ou menos deputados. Para outros ainda é ter mais ou menos autarcas e Presidentes de Câmara. Os níveis de poder a que cada partido ambiciona dependem da respectiva expressão eleitoral de base e das expectativas que a actuação dos seus líderes e dirigentes lhes cria ou não.

 

Ora, a conflitualidade interna dos partidos, que não é mais do que a competição interna pelo poder dentro dos partidos para chegar ao poder nas instituições políticas, tende a ser tanto maior quanto maior for a distância a que esses partidos estão de chegar ao poder, relativamente aos seus objectivos específicos.

 

Dois exemplos: nas eleições legislativas, que elegem deputados e conferem o direito de formar Governo, para o PS e para o PSD chegar ao poder é ganhar as eleições, ser o partido mais votado, obter uma maioria parlamentar e formar Governo. Para o BE, o PCP e o CDS chegar ao poder é eleger mais deputados do que aqueles que têm e, no limite do paraíso, fazer com que os seus deputados sejam indispensáveis para formar uma maioria parlamentar com o PS ou com o PSD consoante os casos e negociarem umas prateleiras douradas ou uns sofás nos ministérios para a sua clientela ou fazerem uns negócios políticos de ocasião para disfarçarem a sua irrelevância.

 

Apliquem-se estes critérios ao estado actual destes cinco partidos.

 

No Bloco estão todos deslumbrados e já vêem Louçã de fato e gravata a tomar posse em Belém como ministro de qualquer coisa numa coligação com o PS. No PCP está tudo satisfeito exactamente pelas expectativas de mais deputados que as sondagens lhes dão, sendo certo que ninguém vê Jerónimo no papel de Louçã, mas sim o PCP a mandar com segundas e terceiras linhas no Governo do PS em sectores estratégicos para o Partido. No PS está tudo preocupado com os efeitos da crise internacional, mas não se alcança, nem à lupa, meia dissidência que seja, com a excepção de Manuel Alegre, que está a disputar uma espécie diferente de poder. Com método e implacabilidade Sócrates conseguiu hoje completar o seu puzzle de poder, tem hoje as pessoas certas nos lugares certos para não ter surpresas desagradáveis. O PSD é um saco de gatos momentaneamente entretidos com as férias e divertidos com um debate sobre o silêncio e as palavras. O CDS já não é um partido, mas um simples desespero. É este, em breve síntese, o estado das expectativas. E é esta a chave de interpretação da conflitualidade interna dentro dos partidos.

(publicado na edição de hoje do Semanário)

 



publicado por Jorge Ferreira às 00:54 | link do post | comentar

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