Sexta-feira, 20 de Junho de 2008

Os responsáveis políticos do Ministério da Educação têm a obsessão do sucesso educativo. Há duas maneiras de o conseguir. A primeira é com um ensino de rigor, de exigência e de trabalho continuado. A outra é facilitando. O Ministério tem seguido a maneira mais fácil para disfarçar o falhanço do sistema. Há ordens para não reprovarem alunos no ensino básico. Há despachos ministeriais que mandam passar os alunos quer saibam quer não saibam. Agora, a vertigem do sucesso a martelo chegou aos exames.

 

A Associação de Professores de Português lamentou que a prova de aferição de Português do 9.º ano tenha tido perguntas de gramática do 2º ciclo, referindo-se às perguntas sobre "tempos verbais simples, todos do modo indicativo" que são ensinados no 2º ciclo de ensino básico (5º e 6º anos). "Lamentamos que a parte da gramática tivesse matéria do 2º ciclo", disse o presidente da APP, Paulo Feytor Pinto, explicando que esta opção pode ser "excessivamente fácil para os alunos porque é matéria antiga, mas também pode ser difícil porque agora os alunos só conseguem decorar a matéria do próprio ano". A prova incidia também, segundo a associação, sobre matérias do programa do 7º ano (subordinação causal e discurso indirecto) e do 8º (subordinação condicional).

 

Tal como nos anos anteriores, a APP voltou a criticar a presença de "orientações" e "ajudas excessivas" na prova que facilitam a sua realização e dificultam o trabalho dos professores no sentido de perceber os reais conhecimentos dos alunos.

 

E quanto à matemática, como se passaram as coisas? Foi assim: quase dois em cada dez alunos obtiveram negativa na prova de aferição de Matemática do 6º ano, um resultado, no entanto, melhor que o registado o ano passado, quando 41% dos estudantes chumbaram no exame. De acordo com dados divulgados pelo Ministério da Educação, 18,3% dos alunos obteve «Não Satisfaz», dos quais 1,8% obtiveram a nota mais baixa, alcançando o nível E, numa escala até ao nível A. Em 2007, quatro em cada dez alunos (41%) chumbaram na prova, dos quais 6,6% obtiveram o nível mais baixo. Este ano, registam-se ainda melhorias nas classificações de «Muito Bom» (A), com 8,9 por cento dos alunos a alcançarem este resultado, enquanto em 2007 apenas 2,7 por cento dos estudantes tiveram esta nota. Quanto à classificação de «Bom» (B), a percentagem passou de 12,9 para 24 por cento, enquanto ao nível do «Satisfaz» (C) subiu de 43,3 para 48,9 por cento. Globalmente, 81,9 por cento dos alunos do 6º ano obtiveram positiva nesta prova.

 

Pronto: está feito outro milagre, não o das rosas, como o símbolo do PS poderia induzir, mas o milagre da matemática. O problema é que os especialistas não parecem estar de acordo em embarcar em milagres fáceis.

 

A Sociedade Portuguesa de Matemática considera que as provas de aferição contêm um "número exagerado de questões demasiado elementares". No comentário da SPM sobre os resultados das provas de aferição de Matemática, a sociedade volta a insistir na crítica. E vai mais longe: "Não é credível que as negativas tanto no 4.º quanto no 6.º tenham caído este ano para menos de metade por os alunos terem melhorado extraordinariamente as suas capacidades matemáticas de um ano para o outro." A SPM insiste que a "forma como as provas são construídas fazem com que os seus resultados não sejam comparáveis de ano para ano": "Infelizmente, o ME não tem sabido, ou não tem querido, fazer testes comparáveis. Os critérios têm mudado, as durações das provas têm mudado, a dificuldade das questões tem também mudado."

 

Assim se continua a enganar o futuro em Portugal.

 

(publicado na edição de hoje do Diário de Aveiro)

 

(Foto)



publicado por Jorge Ferreira às 00:25 | link do post | comentar

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