Quinta-feira, 5 de Abril de 2007
Esta semana, o PS aprovou uma lei da televisão sózinho. Pode? Pode. Teve os votos, tem os deputados. Usa o poder que tem. Não precisa de ninguém. Cavaco Silva, antes de ter aderido à cooperação estratégica, fez exactamente o mesmo e o PS então não gostava.

Esta semana, o PS impediu, sózinho, o acompanhamento parlamentar da construção do aeroporto da Ota. Pode? Pode. Teve os votos, tem os deputados. Usa o poder que tem. Não precisa de ninguém. Cavaco Silva, antes de ter aderido à cooperação estratégica, fez exactamente o mesmo e o PS então não gostava.

O ministro das Finanças, esta semana, reagiu enervadamente a um relatório do Tribunal de Contas, que aponta os desmandos com os gastos nos gabinetes dos membros dos três últimos Governos, incluindo o imaculado Governo Sócrates. O ministro acusou o Tribunal de fazer relatórios sem rigor e a comunicação social de os relatar sem rigor (imaginem Santana Lopes a fazer isto…). Cavaco Silva, antes de ter aderido à cooperação estratégica, fez exactamente o mesmo e o PS então não gostava. Eram os gloriosos tempos das forças de bloqueio. Com a sensível diferença de que, desta vez, ao contrário do que sucedia então, o Presidente do Tribunal de Contas é absolutamente insuspeito de antipatias políticas para com o Governo.

Esta semana, enfim, revelou-se em plenitude a crise do curso do Primeiro-Ministro. Não é o ter ou não uma licenciatura que é relevante. O que é relevante é o Primeiro-Ministro ter alterado a sua biografia profissional e não ter tido a capacidade de desfazer as dúvidas suscitadas pela regularidade do seu processo de licenciatura. Apanhado em contra-pé, José Sócrates não resistiu à apertada e contida farda do marketing profissional que vestiu para chegar onde chegou e perdeu as estribeiras.

Estes episódios mostram como em política nem tudo se controla, nem tudo é cientificamente exequível e, sobretudo, os limites das poses da propaganda. E, pasme-se, tudo graças a um blogue. Sim, um simples blogue, que durante meses investigou metodicamente um assunto, como todos pensávamos que só o jornalismo profissional de investigação podia fazer. A seguir, o Público, seguiu as pisadas da informação e fez estalar o verniz governamental. Para um observador descomprometido não se entende como é que se José Sócrates tem a consciência que tudo está bem mostrou tanto nervosismo, precipitando-se para os jornalistas tentando impedir notícias (imaginem Santana Lopes a fazer isto…).

Em tempos passados mas não muito distantes, talvez viesse esta semana um ex-líder socialista lamentar-se da má moeda e talvez um Presidente da República permanentemente preocupado tivesse chamado o Primeiro-Ministro a Belém para dar explicações. Mas nos imaculados tempos actuais, apenas resta uma dúvida: será que o país fará a vontade a António Vitorino e habituar-se-á mesmo? É que as maiorias absolutas não são sinónimo de eternidade e, muito menos de infalibilidade. Não sei se, nesta fase do campeonato, o PS ainda vai a tempo de o perceber.
(publicado na edição de hoje do Semanário)


publicado por Jorge Ferreira às 11:52 | link do post | comentar

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