Sexta-feira, 2 de Fevereiro de 2007

Terminou mais uma época de transferências de jogadores de futebol de acordo com as regras estabelecidas para o funcionamento do respectivo mercado. Ao contrário do que é costume, os principais clubes de futebol do país compraram pouco, como o F. C. Porto e o Benfica (neste caso com encaixe prévio de uma transferência de um jogador para Inglaterra), ou nada, como o Sporting. O Beira-Mar, que ocupa o último lugar da classificação da Superliga e desatou a trocar jogadores como se a época desportiva fosse começar agora.

Esta situação demonstra uma coisa óbvia: o futebol português parece ter percebido que não se pode viver indefinidamente à custa do futuro e do incerto. E que, sobretudo, não se pode viver indefinidamente com o dinheiro que não se tem. A situação financeira dos principais clubes de futebol não é diferente da situação do país. E, como fez o próprio país, andou anos demais a assobiar para o lado, a viver do que tinha e do que não tinha. Parece que a hora da verdade chegou. Há estádios para pagar, receitas recebidas antecipadamente que já não virão, e tudo isto sem ter durante anos a fio desenvolvido o grande factor diferenciador do futebol português que é a formação de jogadores.

A gestão desportiva dos clubes tem sido escrava da ansiedade dos cada vez menos adeptos que se mobilizam à porta dos treinos, que assobiam ou aplaudem jogadores e que estão sempre prontos para exigir o céu e a terra aos dirigentes, aos treinadores e às equipas. É uma péssima gestão desportiva. Trocam-se jogadores por trocar, sem ganhos visíveis e apenas para desenvolver o mercado dos empresários. Trocam-se treinadores porque uma bola não entra. Não se desenvolvem projectos desportivos sustentados, para atingir objectivos a médio prazo.

Que melhor retrato do país podemos ter?

Acresce que, entretanto o futebol transformou-se numa indústria. Com sociedades comerciais, com cotação dessas sociedades em bolsa, nalguns casos, com activos e passivos e exigências legais a condizer com as de qualquer sociedade comercial. O problema é que, ao contrário do que acontece com as outras sociedades comercias, nas sociedades anónimas desportivas há um clube com associados por trás. O clube é uma instância legitimadora ou deslegitimadora das sociedades anónimas desportivas. E esta é que é uma realidade específica que nas outras indústrias não existe. Não é por acaso que os clubes têm adeptos e as outras marcas apenas têm consumidores.

Vêm estas reflexões a propósito do momento difícil que se vive no Beira-Mar, apenas meses depois da euforia da subida de divisão. E também da contestação que um projecto empresarial pouco explicado e perceptível pelos adeptos está a gerar. Nada disto é bom pronúncio para o futuro. A cidade de Aveiro tem história, tradição, economia e potencialidades para ter no futebol uma das suas marcas de afirmação. Seria lamentável que, por repetir os erros que já custaram caríssimo a outros clubes também cheios de tradição e potencialidade, Aveiro viesse, também no futebol, a descer de divisão.
(publicado na edição de hoje do Diáriode Aveiro)

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publicado por Jorge Ferreira às 10:40 | link do post | comentar

JORGE FERREIRA
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