Quarta-feira, 10 de Junho de 2009

Daqui a cinco anos voltaremos a ouvir falar dos deputados europeus e da monstruosa abstenção, com a qual ninguém parece interessado em aprender. Mais de seis milhões de eleitores não se deram ao trabalho de escolher qualquer partido. Não foram para a praia porque não havia Sol. Não foram de férias, porque não têm dinheiro. Apenas viraram as costas à eleição. Lições? Nenhuma. “The show must go on”.

 

Relativamente ao terço de eleitores que votou, julgo serem de retirar duas conclusões principais.

 

A primeira é de natureza partidária e de índole psicológica. A vitória do PSD estilhaçou duas verdades oficiais de comentadores e comunicação social em geral: uma, a de que Sócrates é invencível em eleições, a outra é de que Manuela Ferreira leite não é capaz de ganhar uma eleição. Até agora, parecia que Sócrates era a reencarnação do “spiderman”, quando na verdade a única eleição que ganhou sem serem as legislativas de 2005, foi nenhuma: perdeu autárquicas, presidenciais e europeias. Para um super-homem não está mal. Sócrates precisa de uma barrela de humildade. Duvido…

 

Quanto ao PSD, ganhou as autárquicas, as presidenciais e estas europeias, mas não pode embandeirar em arco. O voto dos eleitores não é extrapolável de eleição em eleição e ganhar umas não quer dizer que vá ganhar as seguintes. A grande conquista do PSD foi ter demonstrado que essa possibilidade o passou a ser: uma possibilidade. Há um mês atrás ninguém seria capaz de arriscar sem pôr em causa o seu bom nome da praça que Manuela Ferreira Leite era capaz de ganhar umas eleições. É capaz. Está desfeita a ideia feita, nada inocentemente propagada.

 

A segunda tem a ver com o futuro do país. De um país sui generis na Europa, em que um partido dominado por um líder trotskista e outro de natureza estalinista tiveram juntos quase tantos votos como o PS. Nestas eleições para o Parlamento Europeu a esquerda portuguesa dividiu-se em três blocos: o trotskista, o comunista e o socialista.

 

Num país que precisa de mudanças profundas no Estado, que precisa de reestruturar a despesa pública como de pão para a boca, uma sociedade que precisa de mais liberdade na educação, na saúde, na defesa perante as intromissões do Estado na vida privada dos cidadãos, esta é uma má notícia. Nada do que o país precisa se consegue fazer à esquerda. Ora, perante estes resultados é inevitável que o PS dê uma guinada à esquerda na tentativa de retirar espaço aos dois blocos estalinista e trotskista.

 

Depois deste interlúdio de fim de semana, voltámos, enfim, à dura realidade da vida normal. Do BPN, do Freeport, do Banco de Portugal, do TGV, da crise. Até Outubro, em que, aí sim, se realiza sondagem definitiva.

(publicado na edição de hoje do Semanário)

 



publicado por Jorge Ferreira às 11:15 | link do post | comentar

1 comentário:
De Sebastião Barros a 10 de Junho de 2009 às 15:53
Se tiver pachorra para analisar detalhadamente os resultados das europeias, concluirá sem grande dificuldade que algumas das suas posições carecm em absoluto de base factual. Para não ir mais longe: Sendo indubitável que o PS se afundou, por razões conhecidas de todos os interessados, não é totalmente verídico que o PSD foi o grande e inesperado vencedor. Na verdade, averbou menos votos do que nas europeias anteriores. No que concerne ao distrito de Santarém, deu um trambolhão em Ourém, em Ferreira e em Tomar, tudo câmaras geridas pelos laranjas. E se o PS baixou em todos os concelhos, por causa do desgaste da governação, o PSD apenas subiu muito ligeiramente...na Chamusca. Chamar a isto um vitória...


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