Sexta-feira, 29 de Maio de 2009

Desde que decidiu privatizar a banca, disfarçando de concursos públicos alguns negócios preparados antecipadamente, que o cavaquismo se deu mal com bancos. E, muitos dos cavaquistas aproveitaram para se darem bem com os bancos… Aquilo a que o país tem assistido nos últimos meses à volta do BPN e do BPP, e que esta semana teve seu clímax com a segunda audição de Oliveira e Costa no Parlamento, é um triste mostruário dos despojos do cavaquismo.

 

Não é a primeira vez que estas trapalhadas se evidenciam. Já no inquérito parlamentar à privatização da Mundial Confiança e do Banco Totta & Açores, na VII Legislatura, nos idos de noventa, pudemos assistir a depoimentos assombrosos de várias pessoas, que na altura, por efeito da cumplicidade entre o PS e o PSD e também porque, por milagre inexplicável, ninguém ligava nenhuma aos bancos, conduziu ao silenciamento vergonhoso das conclusões do inquérito. Muitos dos protagonistas eram alguns dos actuais protagonistas. Mas um dia se escreverá toda a história desse imbróglio. Até Paulo Portas e outros, que agora se vangloriam do papel do CDS na Comissão de Inquérito ao BPN, nessa altura, tentaram boicotar o papel do CDS na outra Comissão de Inquérito. Lembro-me bem de todos e todos terão o seu lugar nessa novela que ocorreu porventura antes de tempo.

 

O segundo depoimento de Oliveira e Costa na Comissão de Inquérito explica-se pelo simples facto de ninguém estar disposto a cair sozinho. Tudo o que disse esta semana poderia ter dito da primeira vez que lá foi. Mas não: preferiu esperar pelos depoimentos dos outros para atacar. Tácticas de guerra aplicadas à política. É um depoimento que compõe um retrato feio da sociedade portuguesa. Está lá tudo, tudo o que se tem criticado, muitas vezes pelo “cheiro”, por instinto ou por meros indícios e que agora aparece confirmado por um dos protagonistas: como se fazem negócios, como se gerem empresas por onde se movimentam milhões e milhões de euros, como se fiscalizam ou não empresas, como lentamente, metodicamente, pelos exemplos públicos que se dão se vai atirando lentamente um país para a descrença. Todo um manual de leveza nacional.

 

Aguardei, com curiosidade, se Oliveira e Costa também falaria sobre o famigerado “caso Freeport” Mas, desta vez, optou por não falar disso. Talvez tenha incluído esse assunto naquela frase sibilina “eu sei mais do que aquilo que estou a dizer”, o que soou como um aviso à navegação. Mais um. Afinal de contas, parece que também com quem se mete com Oliveira e Costa, leva…

 

Apesar desta torrente de revelações há perguntas que não podemos deixar de colocar: se António Marta, o responsável pela supervisão no Banco de Portugal, recebeu uma cunha de Dias Loureiro para deixar o BPN sossegado, por que razão não foi o Banco de Portugal mais eficaz e consequente? Se Oliveira e Costa contou e não sabemos se contou tudo aquilo que disse no parlamento ao Ministério Público, como se explica que Dias Loureiro ainda nem ouvido no inquérito tenha sido?

 

Mistérios que talvez um dia venhamos a perceber. Como estamos agora a perceber muitos dos mistérios do cavaquismo. E, seguramente, viremos a conhecer outros mistérios, os mistérios do socratismo, alguns deles em pleno curso de vida.

 

Afinal de contas, os despojos do cavaquismo não diferem muito dos que virão a ser os despojos do socratismo. São filhos, esses despojos, de um mesmo sistema de influências que atravessa o bloco central e que têm conduzido Portugal para o estado em que se encontra.

(publicado na edição de hoje do Semanário)



publicado por Jorge Ferreira às 10:47 | link do post | comentar

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