O que nos vai acontecer depois da crise passar, já sabemos, muito tempo depois da crise começar a passar nos países mais desenvolvidos? Eu receio que a recuperação da crise vá ser muito mais penosa para mais portugueses do que está a ser a crise propriamente dita.
Bem sei que as empresas fecham, estamos no limiar do meio milhão de desempregados, a dívida pública está astronomicamente descontrolada e o défice volta a disparar. Mas esta crise tem uma contradição essencial: por estranho que possa parecer a quem com ela mais sofre, os portugueses e as famílias que conseguem conservar o emprego até têm tido um aumento de rendimento disponível, muito por causa da queda abrupta dos juros do crédito à habitação que fez diminuir substancialmente as prestações mensais dos empréstimos para a compra de casa.
Sem que a despesa corrente do Estado tenha diminuído, o Governo desatou a gastar mais, injectando dinheiro, muitas vezes sem resultados aparentes, em empresas que acabam por fechar, e gastando também para disfarçar a crise. E prepara-se para gastar milhões no TGV e no aeroporto, que não só não têm efeitos imediatos no combate ao desemprego, como também só se vão sentir na despesa quando estivermos a sair da crise.
Neste momento as receitas fiscais caiem a pique devido por causa da recessão. O Governo admite um défice de 5,9% e a Comissão europeia aponta para 6,5%. E o que faz o Governo? Não admite. Outra vez não admite e tenta esconder a cabeça na areia. Exactamente como fez com a crise. O ministro das Finanças disse que "a correcção do défice não tem que implicar, em Portugal, um aumento de impostos, uma vez que avançámos com reformas de impacto decisivo na contenção da despesa", afirma o ministro, dando como exemplos as reformas da Segurança Social, da Administração Pública, da Saúde e da Educação. Falso. Começaram mas ficaram a meio, lá está, porque este ano há eleições.
Bruxelas diz que o peso da dívida pública na criação de riqueza em Portugal passará de 66,4% em 2008 para 75,4% este ano e para 81,5% em 2010. Teixeira dos Santos admite que a "redução a prazo" da dívida "exige a redução do défice orçamental para um nível próximo do". E como será isso possível? Diz o ministro que através do crescimento. Mas como para o Governo esse crescimento se fará à custa de investimento público, a solução Teixeira dos Santos é a pescadinha de rabo na boca.
Quando a crise passar, o que vai acontecer é que das duas, uma: ou se faz a reforma da despesa, que implica a reforma do Estado e do contrato social entre o Estado e os cidadãos, o que é impopular e difícil com os ciclos eleitorais vigentes (e nem o PS nem o PSD o querem), ou se aumentam os impostos para, mais uma vez por via do pesadelo fiscal, resolver o problema do défice. Só que o aumento de impostos vai sobrecarregar sobretudo quem tem rendimento e, por isso digo que o depois do adeus à crise vai ser outro calvário.
Claro, há sempre a “via Paulo Rangel”: combater a crise com os fundos europeus, isto é, pôr os fundos europeus a pagar a crise, como se diz no seu infeliz cartaz de campanha para as eleições para o Parlamento Europeu. É a proposta da preguiça e da irresponsabilidade nacional. Continuar a viver à custa de alguém. Só que não me parece que os fundos europeus possam servir para financiar o monstro público que, com método e preserverança construímos nas últimas décadas.
(publicado na edição de hoje do Semanário)
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