A mordaça reentrou no debate político pela voz de Paulo Rangel, que acusou o outrora constituinte amordaçante Vital Moreira de querer impor uma mordaça no debate eleitoral das eleições para o Parlamento Europeu. Com aquela pose de anti-fascista das origens o candidato socialista reagiu, ofendido, invocando curriculum anti-mordaça, ainda Rangel não era nascido e acusando o candidato do PSD de desrespeitar a História.
A isto tudo chama-se desconversar e não é certamente por acaso que os estudos internacionais apontam para uma abstenção nas eleições de Junho na ordem dos 75%
A mordaça é um tema sazonal que vai bem com a mitologia de Abril. Pode inspirar até o regresso das canções de protesto sem necessidade de as pedir emprestadas aos Xutos e Pontapés.
Paulo Rangel tem razão num ponto: hoje é quase impossível, a não ser para mentes abstractas e esotéricas, discutir a Europa sem discutir a política interna. Basta pensar num debate sobre a utilização dos fundos comunitários na agricultura, no desenvolvimento regional, na formação profissional e em inúmeros programas de apoio ao comércio, à indústria e por aí fora: a forma como foram utilizados e desbaratados pelos Governos do PSD e do PS. Ora lá está: é preciso cuidado com esses debates internos, porque eles podem cair em cima da cabeça do excelente cabeça de lista do PSD…
Já ao PS não convém nada a discussão interna. O PS está desejoso de se livrar dos fardos eleitorais e quanto mais irrelevante fôr a participação eleitoral, melhor, porque mais irrelevantes politicamente serão as conclusões a tirar dos resultados. As eleições de Junho correm o risco de se transformar numa grande sondagem paga pelo Estado, que sairá de borla à comunicação social e aos partidos, que ainda receberão um bónus financeiro por aceitarem participar na sondagem…
Quanto à mordaça: há mordaças para todos os gostos. O PS quer fugir do debate interno e o PSD quer fugir do debate sobre o modelo federalista da União Europeia e das suas próprias responsabilidades no estado a que isto chegou com vários milhões de fundos comunitários desperdiçados pelo meio.
No fundo, a verdadeira mordaça é a mordaça do politicamente correcto que molda o debate de surdos que está em curso e que promete tornar ainda mais desinteressante o sufrágio. E quanto mais irrelevante fôr o sufrágio melhor para ambos: o PS disfarça a crise de credibilidade e de decadência governativa em que está mergulhado e o PSD disfarça a crise de oposição e de afirmação em que se consome há vários anos.
(publicado na edição de hoje do Semanário)
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