Depois de uma precipitada ante-estreia em 2005, estreou finalmente um policial único no género. Um policial cuja acção decorre no deserto da margem sul. A acção principal passa-se em Alcochete, simpática vila que misteriosamente se atravessa na vida deste Governo, deste PS e deste Primeiro-Ministro. É único porque decorre no deserto, numa zona que Mário Lino garantira ao país que não havia nada, nem gente. E é único porque é um policial com duas versões: uma, portuguesa, a outra, inglesa.
No caso Freeport José Sócrates não se pode queixar de falta de amigos. Luís Filipe Menezes, que sempre foi pessoa de fé, acredita nele. Mário Lino, claro, emérito especialista em desertos, não falhou a oportunidade de garantir que as notícias eram um ataque. O ministro Silva Pereira foi cheio de papéis à televisão garantir que era tudo legal, esquecendo as que as normas mudam e há razões, umas boas, outras más, para as normas mudarem. Até o exigente e rigoroso jurista Freitas do Amaral ousou uma opinião sobre a legalidade de um processo que confessou não conhecer e aproveitou para se desmentir a si próprio, visto ter esquecido que escreveu no passado sobre os poderes dos Governos de gestão exactamente o contrário do que disse na televisão. Amigos destes não se encontram facilmente em qualidade e em quantidade.
Confesso que há dois pormenores que me surpreendem no tratamento jornalístico que até agora tem sido dispensado ao caso.
O primeiro pormenor é este: se o processo do Freeport atravessou vários Governos de pelo menos três partidos, por que razão só se tem analisado o papel do PS? Sim, bem sei que é neste momento aquele que está no poder. Também sei que aparentemente é apenas a “PS connection” que motiva o interesse das autoridades inglesas. Mas os outros partidos também tomaram decisões no processo administrativo de instalação do Freeport e até agora ninguém as analisou. É um escrutínio que está por fazer, embora seja de estranhar que este tão assanhado PSD e este tão desnorteado CDS estejam caladinhos sobre o assunto. Nem um assomo, nem uma palavra, nem um esgar. O segundo pormenor tem a ver com o misterioso sócio de Charles Smith, o célebre Manuel Pedro, de que não existem novas, nem mandados, nem declarações, nem entrevistas. O que terá a dizer? O que faz hoje na vida? Também está a ser investigado, como o seu sócio? Aquilo não era uma sociedade?
Há uma possível explicação: não estarmos a assistir a um policial com duas versões, mas a uma série policial em duas versões. E, nesse caso, com próximos capítulos. Uma coisa é certa: Alcochete está definitivamente no mapa. Mário Lino é que percebe disto.
(publicado na edição de hoje do Semanário)
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