É dos livros que em momentos de crise aumenta a conflitualidade laboral. Exercendo o direito à greve previsto na Constituição e nas leis, os trabalhadores, sobretudo os sindicalizados reivindicam, protestam, exigem. E como a lei diz que compete aos trabalhadores definir o âmbito das greves é livre a escolha da razão das greves.
Mas há uma espécie de greves que me repugnam especialmente: aquelas greves que são feitas em momentos especialmente penalizadores para o comum dos cidadãos, ou que são anunciadas para momentos especialmente penalizadores para os cidadãos. É o caso das greves marcadas, por exemplo, para o período do Natal. A maior parte da vezes elas são anunciadas para essa altura para que, os decisores, pressionados por essa circunstância, cedam mais facilmente às pretensões dos reivindicantes.
Temos dois casos recentes desta chantagem sindical. A greve da TAP, que acabou por ser desmarcada e que Fernando Pinto apelidou e bem de “terrorismo sindical”, visto que estava marcada mesmo para o dia de Natal, com as gravosas consequências para milhares de passageiros que são facilmente imagináveis e a greve dos trabalhadores da limpeza urbana da Câmara Municipal de Lisboa, em processo em tudo idêntico ao da greve da TAP.
A greve do lixo, como lhe chamam na gíria os lisboetas, tem uma razão muito estranha: é contra a eventual privatização desses serviços municipais. O sindicato não sabe nem trata de saber se os lisboetas terão melhores serviços de limpeza com a privatização, mais eficientes, mais económicos, de maior qualidade. Nem querem saber.
Entretanto, em Aveiro, os trabalhadores da MoveAveiro, a empresa municipal de transportes, encaram a possibilidade de encetar formas de luta contra o anúncio do processo de privatização da empresa, defendida pela Câmara de Aveiro.
Greves, manifestações e concentrações (e já agora abaixo-assinados, sugiro eu, essa novíssima forma de luta sindical redescoberta pelos sindicatos dos professores) junto à Câmara de Aveiro, são as formas de luta que os trabalhadores da MoveAveiro prometem realizar em breve, se uma reunião urgente que foi pedida ao presidente da empresa, o vereador Pedro Ferreira, não desfizer dúvidas sobre o processo de privatização da empresa.
O Sindicato dos Trabalhadores da Administração Local fez mesmo um comunicado para que não restassem dúvidas, condenando o anúncio do processo privatizador da empresa.
Ora estes dois casos mostram bem a subversão do sindicalismo. Privatizar empresas ou nacionalizá-las são decisões políticas a julgar pelos eleitores quando votam. Não são matéria do foro sindical. No fundo, ao pronunciarem-se sistematicamente contra a propriedade privada o que os sindicatos estão a dizer é que não aceitam a possibilidade de deixar de ter o emprego garantido para os seus filiados até à morte. São contra a concorrência, são contra o mérito, são contra o mérito como critério de gestão, são pelo imobilismo, são pelo estatismo. Tudo o que a história já demonstrou que conduz à miséria e à regressão social, ao contrário do que julgam esses militantes sindicais.
Estas posições meramente ideológicas dos sindicatos não se fundam, de resto em dados, em elementos de análise, em argumentos que demonstrem que a comunidade tem a perder com a privatização. Não passam disso mesmo, de um mero preconceito ideológico. Os clientes desses serviços serão melhor ou pior servidos com a privatização? Não sabem, nem sequer lhes interessa. Tudo o que ponha em causa o marasmo e o status quo eles rejeitarão sempre.
(publicado na edição de hoje do Diário de Aveiro)
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