Terminou finalmente o longo, cansativo, caro, global e desgastante processo eleitoral democrático do mundo: as eleições presidenciais americanas. No início do processo eleitoral poucos apostariam que as eleições viriam a ser disputadas por McCain, avesso à ortodoxia republicana e a muitas decisões da Administração Bush, e por Barack Obama, que decidiu ousar desafiar a poderosa máquina do clã Clinton. Eles eram dois candidatos improváveis, que as forças nucleares dos republicanos e dos democratas não queriam.
A verdade é que contra todas as expectativas ganharam as respectivas nomeações e fizeram uma campanha notável. Ambos a correr por fora, ambos pouco confortáveis para os seus partidos, embora tudo o mais os separasse.
Quanto a McCain, fez uma campanha absolutamente heróica, à imagem e semelhança do que foi a sua vida e a sua carreira política. Esteve simplesmente derrotado, abandonado e falido no início da corrida. Sem dinheiro e sem staff. Apenas ele acreditava. Mais uma vez, reergueu-se e teve um resultado notável considerando a conjuntura adversa, a herança Bush e, mesmo num crucial momento da decisão eleitoral de milhões de americanos, o eclodir da crise financeira, que se tornou o principal assunto da vida dos americanos, o decisivo tema da campanha e que lhe caiu em cima de modo fulminantemente comprometedor.
Quanto a Obama, teve na competição com a supostamente infernal máquina política dos Clinton (uma espécie de bloco central doméstico) o seu maior teste. Ao contrário do que é lugar comum ler por aí, não penso que o racismo tenha sido um problema. Se o fosse nunca Obama teria obtido a nomeação, quanto mais ganho as eleições. Eu teria votado McCain, embora reconheça que talvez fosse o candidato certo no tempo errado. Discordo das propostas de Obama e desconfio profundamente da distância que existe entre o embrulho e o conteúdo. Não pode ser só o ódio vigente contra Bush a explicar a reunião de tantas simpatias pelo novo Presidente americano, como as que vão do Hamas a Fidel e Chavez, passando por gente sensata e equilibrada e alguma outra que ainda admira Salazar. Definitivamente, este gigantesco partido de ocasião não dá confiança.
Ao longo da campanha foram desfilando os habituais clichés da esquerda contra o candidato republicano. Exemplo disso foram os fantasmas agitados preventivamente acerca de eventuais fraudes que a Administração estaria a congeminar para derrotar Obama, como se Bush fosse o melhor amigo de McCain… que Obama era o candidato do mundo contra o candidato prisioneiro da madame Alaska… ques e mais ques.
No final, Obama ganhou, McCain perdeu e ambos fizeram dois discursos notáveis na noite da decisão.
Estas eleições americanas foram um momento magistral de política. Ilustrado, aliás, por uma afluência maciça às urnas num país que costuma revelar alguma indiferença pela escolha, através de um sistema eleitoral complexo, do seu Presidente que é também o seu Primeiro-Ministro. Que nos deu a perceber melhor a diferença com os momentos políticos banais e medíocres que se vivem por cá.
(publicado na edição de hoje do Semanário)
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