Quinta-feira, 23 de Outubro de 2008

Sucede que a semana passada Pedro Lomba e eu escrevemos dois textos sobre o problema da concessão do terminal de contentores de Alcantara à Mota-Engil. Pedro Lomba acusa-me hoje, surpreendentemente, na sua coluna do Diário de Notícias, de o ter plagiado. É falso, como julgo que a simples leitura dos dois textos prova. Escrevi de facto sobre o mesmo assunto e até já tinha publicado aqui no Tomar Partido um post em que, veja-se a ironia, citava outra pessoa, concretamente António Prôa, que havia escrito sobre o assunto no Camara de Comuns. Escrevo vai para mais de vinte anos em jornais. Nunca precisei, felizmente de plagiar ninguém. Reconheço que existem parecenças em segmentos dos dois textos, mas partir daí para a acusação leviana que me é feita, vai a distância da ligeireza que não pode ficar sem resposta. Sempre me habituei a citar as fontes e faço-o, como é público e notório nos blogues em que escrevo e em que publico as minhas colaborações para os jornais. O escrutínio é, hoje, ademais, permanente e global. Lamento, caro Pedro Lomba, mas ninguém tem o monopólio da opinião. Se anda aborrecido com alguma coisa encontre onde descarregar. Quanto à possibilidade de virmos a assinar textos conjuntamente é uma questão a pensar. A vida dá tantas voltas, não é, caro Pedro? Proponha qualquer coisa que eu logo vejo se estou para isso.

 

Sem mais comentários, aqui ficam os dois textos para quem quiser ajuizar livremente das razões de cada um e, sobretudo, do alegado "plágio quase integral".

 

O texto de Pedro Lomba:

 

"Aqui há uns tempos, quando Jorge Coelho marchou para a presidência da construtora Mota-Engil, o mundo português dividiu-se. Para uns, a Mota- -Engil era livre de escolher quem quisesse para a sua administração, até aquele que é possivelmente o português mais influente junto do Governo. Para outros, mesmo que a idoneidade de Jorge Coelho estivesse fora de causa, essa escolha iria pôr em suspeição permanente as relações entre o Estado e a construtora. Uma suspeição que até poderia revelar-se infundada, mas que seria difícil eliminar.

Agora, vejam bem, o Governo decidiu, já em fim de mandato, renovar o contrato de concessão do terminal de contentores de Alcântara à Liscont, uma empresa maioritariamente detida pelo grupo Mota-Engil - renovação acompanhada de uma apreciável melhoria das condições do contrato (aumenta a área disponível para a instalação de contentores). Aquilo de que qualquer lisboeta está absolutamente farto - ver a zona ribeirinha atravancada pelos contentores da actividade portuária -, não só irá continuar como irá crescer em densidade. O PSD reagiu invocando o favorecimento da empresa da Mota-Engil e tenciona pedir a apreciação parlamentar da decisão do Governo. Eu não sei nem posso garantir se o Governo favoreceu aqui a empre- sa do "amigo" Jorge Coelho. Mas se a função do jornalismo é fazer perguntas, eu aproveito para fazer as minhas. Há uns anos, numa notícia de 2 de Maio de 2005, o Diário de Notícias dava conta de que o grupo Tertir pedia ao Governo que clarificasse a sua posição sobre a localização da actividade portuária, porque estava insatisfeita com a ideia de ter de deslocar o terminal portuário para fora de Lisboa a fim de se "devolver" a área ribeirinha à população. Convém notar que a Tertir era então proprietária da Liscont e, para além de temer os custos inerentes à construção de uma nova central de contentores, tinha interesse natural em renovar a concessão do terminal de Alcântara. É escusado acrescentar que o Governo não clarificou nada, sempre sob o pretexto de que a área ribeirinha seria libertada para se tornar no espaço de lazer e liberdade que os lisboetas esperam há décadas. Então o que fez a Tertir? Em 2007, vendeu a sua posição na Liscont à Mota-Engil, que assim passou a controlar a empresa. E é essencialmente isto que importa esclarecer: como é que antes a renovação do contrato de concessão desejada pela Tertir parecia uma tarefa impossível por força dos planos governamentais de abertura da área ribeirinha e, assim que a Liscont passa para as mãos da Mota-Engil, o contrato de concessão é logo celebrado, ainda por cima com condições mais favoráveis? De resto, este é só mais um exemplo de como Lisboa e os lisboetas são tratados por quem nos governa."

 

O meu texto:

 

"Vai para três anos, soube-se que o grupo Tertir solicitou ao Governo que clarificasse a sua posição sobre a localização da actividade portuária, porque estava insatisfeita com a ideia de ter de deslocar o terminal de contentores portuário para fora de Lisboa. Estava na altura em causa a meritória ideia de “devolver" a área ribeirinha à população de Lisboa.

 

A Tertir era então proprietária da Liscont e, para além de não desejar suportar os custos inerentes à construção de uma nova central de contentores, tinha óbvio interesse na renovação da concessão de Alcântara. Claro que a Tertir ficou sem resposta, o Governo calou-se muito bem caladinho, sempre brandindo o ideal da libertação da zona ribeirinha para uma nova era de lazer, a que de resto os lisboetas aspiram há décadas.

 

Então o que fez a Tertir? Em 2007, vendeu a sua posição na Liscont à Mota-Engil, que assim passou a controlar a empresa. E é justamente aqui que importa esclarecer: como é que antes a renovação do contrato de concessão desejada pela Tertir era impossível por força da estratégia de libertação da zona ribeirinha e, assim que a Liscont passa para as mãos da Mota-Engil, o contrato de concessão é logo celebrado, ainda por cima com condições mais favoráveis e sem concurso público?

 

Destes factos pode concluir-se, em primeiro lugar, que para o PS Lisboa é carne para canhão de negócios e, em segundo lugar que há um dado novo, que parece ter alterado tudo: Jorge Coelho na Mota Engil. Claro que o silêncio de outrora vai regressar. O silêncio sempre foi o método de explicação dos negócios públicos inexplicáveis. Pela comunicação social passou vagamente uma reacção do PSD, que se revelou até agora inconsequente. Nem sequer o Bloco de Esquerda se lembrou de tentar um inquérito parlamentar, não fosse José Sá Fernandes na Câmara fugir ainda mais de controlo. E depois, venham-me cá com belos discursos…"


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publicado por Jorge Ferreira às 18:31 | link do post | comentar

12 comentários:
De Leonardo Sá Torres a 26 de Outubro de 2008 às 02:53
Caro Jorge Ferreira,

a evidência do plágio é de tal ordem gritante que qualquer argumento para o tentar escamotear é verdadeiramente inconsequente e... vergonhosa.

Não vem mal nenhum ao mundo admitir o plágio... até Eça de Queiróz o fez a autores "menores"...

Enquanto político que o Jorge é... este episódio é bem demonstrativo do carácter de quem é suposto reger a coisa pública e fazê-lo honesta e ideoneamente ...

Atentamente,


De Tubarão a 24 de Outubro de 2008 às 10:34
O Jorge a plagiar ?
Só quem quer protagonismo é que faz uma afirmação dessas.
São anos e anos de escrita semanalmente, para diversos jornais, adicionando nos últimos anos a escrita diária para blogs e não só! Quem escreve assim não é "GAGO"!
Se me permite JORGE um conselho que o meu pai me costuma dar:
Nunca percas tempo com seres humanos que não deviam de o ser!
Um abraço


De CB a 24 de Outubro de 2008 às 00:08
Concordo com as afirmações do João Carvalho Fernandes. Eu sou do NORTE, e aqui ninguém conhece esse Pedro Lomba, mas o Jorge Ferreira aínda há quem se lembre dele quando passou pelo parlamento. Quando foi DEPUTADO!Portanto, eu não posso falar desse indivíduo que desconheço, agora se ele é jornalista, é bom que comece a aprender a interpretar textos! Oh Dr. Jorge Ferreira, aproveite as cheias e mande-o na enxurrada!


De MP a 23 de Outubro de 2008 às 22:31
!!!!

Concordo com o João,

Pedro Lomba tem a 'mania que é bom', as restantes pessoas só podem escrever assentes nas permissas da sua iluminada "esferográfica" ...!


De João Carvalho Fernandes a 23 de Outubro de 2008 às 19:06
Há gajos que hão-de ser idiotas toda a vida! É o caso deste Pedro Lomba... Idiota e convencido! Deve pensar que é o supra-sumo e que toda a gente o lê!

E a frase "plagiando quase integralmente o meu texto", depois da leitura de ambos os textos, caracteriza o seu autor como um grande e completo idiota que está de má-fé.

Enfim, é o país que temos em que idiotas destes se colocam permanentemente em bicos de pés. Mas a culpa principal nem é deles, é do poder instalado que lhes dá tempo de antena e a quem convem ter "intelectuais" deste calibre.


De Pedro Lomba a 24 de Outubro de 2008 às 10:41
Caro Jorge Ferreira,

Não é por nada, mas permita-me que lhe diga muito simplesmente que está a mentir. O seu texto que entretanto, segundo parece, já retirado da página online do jornal do seu partido (não sei bem porquê), foi publicado durante a noite do dia 16 de Outubro, o dia em que o meu artigo saiu no Diário de Notícias. Aliás, imprimi-o e o dia e hora de publicação estão perfeitamente registados na página. Infelizmente, na sua resposta omite em absoluto estes factos.

Quem se der ao trabalho de confrontar os dois textos percebe facilmente aquilo que em bom português se chama plágio. Nem vou perder tempo a mostrar a absoluta semelhança entre as suas frases e as minhas. Já para não falar da estrutura, do encadeamento dos parágrafos e do argumento fundamental do texto.

Aliás, o seu plágio começa logo na primeira frase do seu texto:

"(...) a Tertir solicitou ao Governo que clarificasse a sua posição sobre a localização da actividade portuária, porque estava insatisfeita com a ideia de ter de deslocar o terminal de contentores portuário para fora de Lisboa.

No dia anterior, eu tinha publicado no DN:

"O grupo Tertir pedia ao Governo que clarificasse a sua posição sobre a localização da actividade portuária, porque estava insatisfeita com a ideia de ter de deslocar o terminal portuário para fora de Lisboa".

Notável. E podíamos continuar com outros exemplos. Vai dizer que se trata de uma coincidência. Eu respondo-lhe que a coincidência é sempre o eufemismo do plagiador.

De resto, não tenho monopólio da opinião coisíssima nenhuma. Nem me ponho em bicos de pés, ao contrário do que com elegância apreciável o seu colega de partido João Carvalho Fernandes acaba aqui de dizer. Mas, como calcula, não gosto de ser plagiado; como dizia o outro, é uma coisa que me chateia.

Os senhores costumam ser tão moralistas e enfatuados na vossa actividade política. Estou certo que compreendem esta minha reacção. Assunto encerrado.

Pedro Lomba



De Jorge Ferreira a 24 de Outubro de 2008 às 13:20
Caro Pedro Lomba,

Lamento profundamente que insista na tese de plágio. Deixe-me que lhe diga que é falso que o texto tenha sido retirado do jornal. É mesmo a necessidade de procurar argumento à força para tentar provar um não facto! O texto continua on line no Democracia Liberal, em arquivo, como sucede durante algum tempo com as colaborações certas do jornal. Está aqui: http://demoliberal.com.pt/noticias.php?noticia=7099. Nem havia razão para o retirar. Mas mesmo que assim fosse e essa é decisão editorial do jornal que não é da minha competencia, o texto estaria e estará sempre on line em dois sítios, pelo menos, do Tomar Partido. Agora, faço questão que assim seja. Quem não deve, não teme. Por outro lado, acho espantoso o pendor policial da tese das horas. Escrevo muitas vezes a "desoras" e envio os meus textos a horas variadas. Sinceramente não me lembro a que horas escrevi e a que horas enviei o texto em causa. São verdadeiramente pidescas as considerações a esse respeito. Mas não estou disponível para reconstituições "policiais" da minha vida. Seja como fôr, tenho a minha consciencia tranquila e também dou este lamentável assunto por encerrado, apesar dos muitos conselhos que tenho recebido em contrário.



De MP a 24 de Outubro de 2008 às 17:04
Patético... Enxergue-se.


De MP a 24 de Outubro de 2008 às 18:19
O meu comentário anterior (MP a 24 de Outubro de 2008 às 17:04) era para Pedro Lomba.


De João Carvalho Fernandes a 24 de Outubro de 2008 às 18:04
Como é óvio, o texto continua lá no Democracia Liberal... E se eu dissesse que o texto inicial do Pedro Lomba já não estava no DN? Fazia figuras tristes, não era?

E já agora lembram-se quem foi protagonista (a palavra aqui assenta às mil maravilhas) de uma polémica de chacha destas com o Jose´Adelino Maltez?



De Anónimo a 24 de Outubro de 2008 às 23:24
Jura?!!!
Com o J. Adelino Maltez?!!
Oh pá ... olha com quem é que o indíviduo se foi meter!!


De João Carvalho Fernandes a 25 de Outubro de 2008 às 23:22
E depois de armar uma grande confusão, foi-lhe pedir desculpa...


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