Sucede que a semana passada Pedro Lomba e eu escrevemos dois textos sobre o problema da concessão do terminal de contentores de Alcantara à Mota-Engil. Pedro Lomba acusa-me hoje, surpreendentemente, na sua coluna do Diário de Notícias, de o ter plagiado. É falso, como julgo que a simples leitura dos dois textos prova. Escrevi de facto sobre o mesmo assunto e até já tinha publicado aqui no Tomar Partido um post em que, veja-se a ironia, citava outra pessoa, concretamente António Prôa, que havia escrito sobre o assunto no Camara de Comuns. Escrevo vai para mais de vinte anos em jornais. Nunca precisei, felizmente de plagiar ninguém. Reconheço que existem parecenças em segmentos dos dois textos, mas partir daí para a acusação leviana que me é feita, vai a distância da ligeireza que não pode ficar sem resposta. Sempre me habituei a citar as fontes e faço-o, como é público e notório nos blogues em que escrevo e em que publico as minhas colaborações para os jornais. O escrutínio é, hoje, ademais, permanente e global. Lamento, caro Pedro Lomba, mas ninguém tem o monopólio da opinião. Se anda aborrecido com alguma coisa encontre onde descarregar. Quanto à possibilidade de virmos a assinar textos conjuntamente é uma questão a pensar. A vida dá tantas voltas, não é, caro Pedro? Proponha qualquer coisa que eu logo vejo se estou para isso.
Sem mais comentários, aqui ficam os dois textos para quem quiser ajuizar livremente das razões de cada um e, sobretudo, do alegado "plágio quase integral".
O texto de Pedro Lomba:
"Aqui há uns tempos, quando Jorge Coelho marchou para a presidência da construtora Mota-Engil, o mundo português dividiu-se. Para uns, a Mota- -Engil era livre de escolher quem quisesse para a sua administração, até aquele que é possivelmente o português mais influente junto do Governo. Para outros, mesmo que a idoneidade de Jorge Coelho estivesse fora de causa, essa escolha iria pôr em suspeição permanente as relações entre o Estado e a construtora. Uma suspeição que até poderia revelar-se infundada, mas que seria difícil eliminar.
Agora, vejam bem, o Governo decidiu, já em fim de mandato, renovar o contrato de concessão do terminal de contentores de Alcântara à Liscont, uma empresa maioritariamente detida pelo grupo Mota-Engil - renovação acompanhada de uma apreciável melhoria das condições do contrato (aumenta a área disponível para a instalação de contentores). Aquilo de que qualquer lisboeta está absolutamente farto - ver a zona ribeirinha atravancada pelos contentores da actividade portuária -, não só irá continuar como irá crescer em densidade. O PSD reagiu invocando o favorecimento da empresa da Mota-Engil e tenciona pedir a apreciação parlamentar da decisão do Governo. Eu não sei nem posso garantir se o Governo favoreceu aqui a empre- sa do "amigo" Jorge Coelho. Mas se a função do jornalismo é fazer perguntas, eu aproveito para fazer as minhas. Há uns anos, numa notícia de 2 de Maio de 2005, o Diário de Notícias dava conta de que o grupo Tertir pedia ao Governo que clarificasse a sua posição sobre a localização da actividade portuária, porque estava insatisfeita com a ideia de ter de deslocar o terminal portuário para fora de Lisboa a fim de se "devolver" a área ribeirinha à população. Convém notar que a Tertir era então proprietária da Liscont e, para além de temer os custos inerentes à construção de uma nova central de contentores, tinha interesse natural em renovar a concessão do terminal de Alcântara. É escusado acrescentar que o Governo não clarificou nada, sempre sob o pretexto de que a área ribeirinha seria libertada para se tornar no espaço de lazer e liberdade que os lisboetas esperam há décadas. Então o que fez a Tertir? Em 2007, vendeu a sua posição na Liscont à Mota-Engil, que assim passou a controlar a empresa. E é essencialmente isto que importa esclarecer: como é que antes a renovação do contrato de concessão desejada pela Tertir parecia uma tarefa impossível por força dos planos governamentais de abertura da área ribeirinha e, assim que a Liscont passa para as mãos da Mota-Engil, o contrato de concessão é logo celebrado, ainda por cima com condições mais favoráveis? De resto, este é só mais um exemplo de como Lisboa e os lisboetas são tratados por quem nos governa."
O meu texto:
"Vai para três anos, soube-se que o grupo Tertir solicitou ao Governo que clarificasse a sua posição sobre a localização da actividade portuária, porque estava insatisfeita com a ideia de ter de deslocar o terminal de contentores portuário para fora de Lisboa. Estava na altura em causa a meritória ideia de “devolver" a área ribeirinha à população de Lisboa.
A Tertir era então proprietária da Liscont e, para além de não desejar suportar os custos inerentes à construção de uma nova central de contentores, tinha óbvio interesse na renovação da concessão de Alcântara. Claro que a Tertir ficou sem resposta, o Governo calou-se muito bem caladinho, sempre brandindo o ideal da libertação da zona ribeirinha para uma nova era de lazer, a que de resto os lisboetas aspiram há décadas.
Então o que fez a Tertir? Em 2007, vendeu a sua posição na Liscont à Mota-Engil, que assim passou a controlar a empresa. E é justamente aqui que importa esclarecer: como é que antes a renovação do contrato de concessão desejada pela Tertir era impossível por força da estratégia de libertação da zona ribeirinha e, assim que a Liscont passa para as mãos da Mota-Engil, o contrato de concessão é logo celebrado, ainda por cima com condições mais favoráveis e sem concurso público?
Destes factos pode concluir-se, em primeiro lugar, que para o PS Lisboa é carne para canhão de negócios e, em segundo lugar que há um dado novo, que parece ter alterado tudo: Jorge Coelho na Mota Engil. Claro que o silêncio de outrora vai regressar. O silêncio sempre foi o método de explicação dos negócios públicos inexplicáveis. Pela comunicação social passou vagamente uma reacção do PSD, que se revelou até agora inconsequente. Nem sequer o Bloco de Esquerda se lembrou de tentar um inquérito parlamentar, não fosse José Sá Fernandes na Câmara fugir ainda mais de controlo. E depois, venham-me cá com belos discursos…"
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