Sexta-feira, 6 de Fevereiro de 2009

O ministro dos Negócios Estrangeiros, Luís Amado, reconheceu de forma inaudita e inédita, até aqui pouco usual, que "o país adaptou-se mal ao choque da integração na união económica e monetária" europeia. A "rápida convergência" de Portugal resultou num "processo de divergência paulatino" a partir da integração no "núcleo duro" da moeda única europeia, há dez anos. Daí advieram problemas estruturais para o país, como a existência de um "Estado pouco eficiente, uma economia pouco competitiva e uma sociedade com pouca autonomia, excessivamente dependente do Estado", afirmou o imprudente ministro Amado.


"O Governo procurou reagir" com um programa de reformas e de contenção orçamental, mas a crise internacional veio "interromper um processo de recuperação que o país vinha seguindo", reconheceu o ministro, apontando: "No momento em que é preciso mais intervenção do Estado, o Estado tem limitações e constrangimentos orçamentais inquestionáveis. No momento em que a economia se devia flexibilizar e adaptar rapidamente a uma mudança de ambiente tão drástica, as fragilidades do tecido produtivo português sobressaem. E no momento em que precisávamos de uma sociedade mais forte, com níveis de bem-estar sustentáveis, a fraqueza do tecido social evidencia-se".


Neste contexto, só com "esforço e sacrifício" Portugal se manterá no núcleo duro da União Europeia (UE), a que quis pertencer desde o primeiro momento, frisou o governante.  

 

Estas afirmações passaram relativamente despercebidas e foram feitas num encontro com diplomatas estrangeiros em Lisboa. Evidentemente não passou pela cabeça do assoberbado ministro lembrar que houve muitas vozes que em devido tempo advertiram para a precipitação que seria Portugal aderir ao euro sem, antes disso, cuidar do seu sistema produtivo, fortalecer a sua economia e dar prioridade à convergência nominal. Nessa altura, quem se atrevia a discordar de uma alínea da tabuada do euro era velho do Restelo, radical, extremista, populista. Era preciso forçar a chamada convergência nominal, a qual, como se sabe é bem mais fácil de manipular nos gabinetes dos ministros das Finanças, do que conseguir que a economia verdadeira corresponda à economia formal.

 

Que era preciso entrar no euro para acabar com o défice do Estado, diziam-nos os fundamentalistas do euro. Viu-se. Que era preciso entrar a toda a velocidade no euro para acabar diminuir a dívida pública. Viu-se. Hoje, a dívida pública ascende ao valor recorde de 64% do PIB, segundo os números inseguros do Governo. Estamos conversados sobre o sucesso dos argumentos de quem forçou o euro.

 

Ninguém queria ouvir os argumentos em contrário. Era preciso entrar no euro porque sim. Nunca ouvi a Luís Amado um murmúrio que fosse de dúvida sobre a entrada de Portugal no euro. É por isso que esta confissão espantosa que acaba de fazer, embora inconsequente, visto que graças ao PS e ao PSD o mal está feito, tem um valor específico porque vem de um militante do pensamento único e politicamente correcto que determinou que a União europeia tenha chegado ao estado social, económico e político a que chegou. Luís Amado e os seus amigos bem podem limpar as mãos à parede pela obra que fizeram.

(publicado na edição de hoje do Semanário)

(Foto)

 



publicado por Jorge Ferreira às 00:26 | link do post | comentar

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